Os Avá-Canoeiro do Araguaia e o tempo do cativeiro

Autores/as

  • Patrícia de Mendonça Rodrigues

Palabras clave:

Avá-Canoeiro do Araguaia, Frente de Atração, genocídio, cativeiro, resiliência

Resumen

Depois de décadas de massacres e fuga dos colonizadores em condições desumanas, um grupo de dez sobreviventes dos Avá-Canoeiro do Araguaia foi capturado por uma violenta Frente de Atração da FUNAI em 1973 e 1974. Dois anos depois, com o grupo reduzido à metade, os Avá-Canoeiro foram transferidos compulsoriamente para a aldeia Canoanã, dos Javaé, com quem disputaram um mesmo território por mais de cem anos, em um contexto de enfrentamentos e inúmeras mortes recíprocas. Embora tenham sido aprisionados por agentes do Estado, os Avá-Canoeiro foram recebidos por seus antigos adversários como perdedores de guerra e incorporados a uma posição subalterna de inferioridade social, sofrendo desde então severa marginalização socioeconômica, política e cultural nas aldeias javaé. Depois de 40 anos do traumático evento da captura, os atuais 21 Avá-Canoeiro ainda residem na “aldeia dos inimigos” como cativos de guerra, à espera do retorno a uma terra própria. A precipitada ação estatal beneficiou unicamente o interesse dos grandes grupos econômicos que se instalaram nas terras ocupadas tradicionalmente pelos dois grupos indígenas. Apesar de todo o histórico de opressão, os Avá-Canoeiro têm demonstrado uma extraordinária capacidade de resiliência física e cultural.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Citas

ALBERT, Bruce & RAMOS, Alcida Rita (org.). 2000. Pacificando o Branco: cosmologias do contato no Norte-Amazônico. São Paulo: Unesp.
ALENCASTRE, José Martins Pereira de. 1998b [1862]. “Relatório lido na abertura d’Assembléia Legislativa de Goyaz pelo Exmo. Sr. José Martins Pereira de Alencastre no dia 1° de junho de 1862”. In: Memórias Goianas 9: relatórios dos governos da Província de Goiás, 18611863. Goiânia: UCG.
ATAÍDES, Jézus Marco de. 2001. Documenta indígena do Brasil Central. Goiânia: UCG.
BALDUS, Herbert. 1970. Tapirapé: tribo Tupi no Brasil Central. Série Brasiliana 17. São Paulo: Nacional.
BOURDIEU, Pierre. 1995 [1972]. Outline of a theory of practice. Cambridge: Cambridge University Press.
CASTELNAU, Francis. 2000. Expedição às regiões centrais da América do Sul. Coleção Reconquista do Brasil (2ª série). Vol. 217. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Itatiaia.
CHAIM, Marivone Matos. 1974. Os aldeamentos indígenas na Capitania de Goiás. Goiânia: Oriente.
CHRIST, Catarina Lourdes. 2009. “Grupos de indígenas isolados no Mato Grosso”. In: Relatório 2009: violência contra os povos indígenas no Brasil. Brasília: CIMI. pp 32-141.
CLASTRES, Hélène. 1995 [1975]. The Land-Without-Evil: Tupí-Guaraní prophetism. Urbana and Chicago: University of Illinois Press.
COMAROFF, John & COMAROFF, Jean. 1992. Ethnography and the historical imagination. Boulder: Westview Press.
COSTA JÚNIOR, Plácido. 1999. Relatório ambiental à identificação e delimitação da Terra Indígena Inãwébohona (anteriormente denominada “Boto Velho”). Brasília: Funai/PPTAL.
COUTO DE MAGALHÃES, José Vieira. 1974 [1863]. Viagem ao Araguaia. São Paulo: Editora Três.
CROCKER, Jon Christopher. 1979. “Selves and alters among the eastern Bororo”. In: David Maybury-Lewis (ed.). Dialectical societies: the Gê and Bororo of Central Brazil. Cambridge: Harvard University Press. pp 249-300.
_____. 1985. Vital souls: Bororo cosmology, natural symbolism, and shamanism. Tucson: University of Arizona Press.
CRUZ MACHADO, Antonio Cândido da. 1997a [1854]. “Relatório que à Assembléia Legislativa Provincial de Goyaz apresentou na sessão ordinária de 1854 o Presidente da Província Antonio Cândido da Cruz Machado”. In: Memórias Goianas 6: relatórios dos governos da Província de Goiás, 1854-1856. Goiânia: UCG.
_____. 1997b [1855]. “Relatório que à Assembléia Legislativa Provincial de Goyaz apresentou na sessão ordinária de 1855 o Exm. Presidente da Província Antonio Cândido da Cruz Machado”. In: Memórias Goianas 6: relatórios dos governos da Província de Goiás, 18541856. Goiânia: UCG.
CUNHA MATTOS, Raymundo José da. 1875. “Chorographia histórica da Província de Goyaz” (parte I). Revista Trimestral do IHGEB, 38, Rio de Janeiro.
DAMATTA, Roberto. 1979. “The Apinayé relationship system: terminology and ideology”. In David Maybury-Lewis (ed.). Dialectical societies: the Gê and Bororo of Central Brazil. Cambridge: Harvard University Press. pp 83-127.
DONAHUE, George. 1982. A contribution to the ethnography of the Karajá indians of Central Brazil. PhD Thesis, University of Virginia.
ESCRIBANO, Francesc. 2000. Descalço sobre a terra vermelha. Campinas: Unicamp.
FERRAZ, Luciana. 2012. Relatório ambiental da Terra Indígena Taego Ãwa. Brasília: Funai.
FONSECA, José Pinto da. 1867. “Carta que o Alferes José Pinto da Fonseca escreveu ao Exm. General de Goyazes, dando-lhe conta do descobrimento de duas nações de índios, dirigida do sítio onde portou”. Revista Trimensal de História e Geographia do IHGB, 8:376-390.
FREITAS, Edinaldo Bezerra de. 2004. “Fala de índio, história do Brasil: o desafio da etno -história indígena”. Revista História Oral, 7.
FUNAI. 1973. “Finalmente o contato”. Boletim Informativo Funai, 2 (8), III Trimestre: 3-10. Brasília: Funai.
_____. 1974. “Avá-Canoeiros aos poucos abandonam a peregrinação do medo”. Boletim Informativo Funai, 3 (11/12):68-72. Brasília: Funai.
GIDDENS, Anthony. 1993 [1976]. New rules of sociological method. Cambridge: Polity Press.
_____. 1994 [1979]. Central problems in social theory: action, structure and contradiction in social analysis. Berkeley and Los Angeles: University of California Press.
GRANADO, Eliana. 1999. “Sobrevivência e reconstituição étnica dos Avá-Canoeiro”. Revista Brasileira de Ecologia do Século 21, IX, julho/agosto, 41:29-34, Rio de Janeiro.
HUGH-JONES, Stephen. 2002. “Nomes secretos e riqueza visível: nominação no noroeste amazônico”. Mana, 8 (2):45-67.
KARASCH, Mary. 1992. “Catequese e cativeiro: política indigenista em Goiás, 17801889”. In: Manuela Carneiro da Cunha (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras. pp 397-412.
KRAUSE, Fritz. 1943 [1911]. “Nos sertões do Brasil”. Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, 90:179-193.
LIMA FILHO, Manuel Ferreira. 1994. Hetohokỹ: um rito Karajá. Goiânia: UCG.
_____. 2001. O desencanto do oeste. Goiânia: UCG.
MAYBURY-LEWIS, David (org.). 1979. Dialectical societies: the Gê and Bororo of Central Brazil. Cambridge: Harvard University Press.
MARIANI, Francisco. 1997 [1854]. “Relatório com que o Presidente da Província de Goyaz, o Exmo. Sr. Dr. Francisco Mariani, entregou a Presidência da mesma ao Exm. Sr. Dr. Antonio Augusto Pereira da Cunha”. In: Memórias Goianas 6: relatórios dos governos da Província de Goiás, 1854-1856. Goiânia: UCG.
MEIRELLES, Denise Maldi. 1973. “Breve notícia sobre os Avá-Canoeiro”. Boletim Informativo Funai, 2 (8), III Trimestre:11. Brasília: Funai.
MEIRELLES, José Apoena Soares de & MEIRELLES, Denise Maldi. 1973/1974. “O conhecimento dos Avá-Canoeiro”. Boletim Informativo Funai, 3 (9/10), IV Trimestre 1973, I Trimestre 1974:15-23. Brasília: Funai.
MELATTI, Julio Cezar. 1976. “Nominadores e genitores: um aspecto do dualismo Krahô”. In: Egon Schaden (org.). Leituras de etnologia brasileira. São Paulo: Nacional. pp 139-148.
MORAES JARDIM, Joaquim Rodrigues de. 2001 [1880]. “Exposição que fez o Sr. Major de Engenheiros Dr. Joaquim Rodrigues de Moraes Jardim sobre sua viagem ao Araguaya, Goyaz”. In: Memórias Goianas 13: relatórios dos governos da Província de Goiás, 1880-1881. Goiânia: UCG.
NEIVA, Antônio Teodoro da Silva. 1971. “Os Canoeiros”. In: Atica Vilas Boas da Mota & Modesto Gomes (orgs.). Aspectos da cultura goiana. Goiânia: Departamento Estadual de Cultura. pp 103-129.
NEWLANDS, Lílian & RAMOS, Aguinaldo Araújo. 2007. Apoena, o homem que enxerga longe ”“ Memórias de Apoena Meirelles, sertanista assassinado em 2004. Goiânia: UCG.
PACTO. 1992. Programa Avá-Canoeiro do Tocantins. Brasília: Funai/Furnas.
_____. 2004. Programa de apoio aos Avá-Canoeiro. Brasília: Funai/Furnas.
PEDROSO, Dulce Madalena Rios et al. 1990. Avá-Canoeiro: a terra, o homem, a luta. Goiânia: UCG.
_____. 1994. O povo invisível. Goiânia: UCG.
_____. 2006. “Avá-Canoeiro”. In: Marlene Castro O. de Moura (org.). Índios de Goiás: uma perspectiva histórico-cultural. Goiânia: UCG. pp 91-133.
PÉTESCH, Nathalie. 2000. La pirogue de sable: pérennité cosmique et mutation sociale chez les Karajá du Brésil central. Paris: Peeters.
POHL, João Emanuel. 1951 [1837]. Viagem ao interior do Brasil. Vol. II. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro.
RIVET, Paul. 1924. “Les indiens canoeiros”. Journal de la Société des Américanistes de Paris, 16, Paris.
ROCHA, Jennifer Alves. 2002. Memória e esquecimento: a história dos Avá-Canoeiro no Tocantins. Monografia de Graduação em História, Universidade Federal de Tocantins.
RODRIGUES, Aryon D. 1984/1985. “Relações internas na família linguística tupi-guarani”. Revista de Antropologia, 27/28:33-53. São Paulo: USP.
RODRIGUES, Patrícia de Mendonça. 1993. O Povo do Meio: tempo, cosmo e gênero entre os Javaé da Ilha do Bananal. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília.
_____. 2008a. Relatório de identificação e delimitação: Terra Indígena Utaria Wyhyna (Karajá) / Iròdu Iràna (Javaé). Brasília: Funai/PPTAL.
_____. 2008b. A caminhada de Tanỹxiwè: uma teoria Javaé da História. Tese de doutorado, Universidade de Chicago (versão em português).
_____. 2010. Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Javaé/ Avá-Canoeiro. Brasília: Funai.
_____. 2011. “Os Avá-Canoeiro do Araguaia hoje: uma perspectiva de futuro”. In: Loebens & Oliveira Neves (orgs.). Povos indígenas isolados na Amazônia ”“ A luta pela sobrevivência. Manaus: Cimi/Ufam.
_____. 2012. Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Taego Ãwa. Brasília: Funai.
SILVA E SOUSA, Luiz Antônio da. 1849. “O descobrimento, governo, população e cousas mais notáveis da Capitania de Goyaz”. Revista Trimensal de História e Geographia do IHGB, 12: 429-519.
SPÍNOLA, Aristides de Souza. 2001a [1880]. “Relatório apresentado pelo Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Aristides de Souza Spínola, Presidente da Província, à Assembléia L. Provincial de Goyaz, no dia 4 de março de 1880”. In: Memórias Goianas 13: relatórios dos governos da Província de Goiás, 1880-1881. Goiânia: UCG.
TAVENER, Christopher J. 1973. “The Karajá and the brazilian frontier”. In: Daniel R. Gross (ed.). Peoples and cultures of native South America: an anthropological reader. Garden City, New York: The Natural History Press. Pp 443-459.
TEÓFILO DA SILVA, Christian. 2005. Cativando Maira ”“ a sobrevivência Avá-Canoeiro no alto Rio Tocantins. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília.
TORAL, André Amaral de. 1981. “Os Javaé e a defesa de sua terra”. In: Comissão Pró-Índio ”“ a questão da terra indígena. São Paulo: Global. pp 69-80.
_____. 1984. “Situação e perspectivas de sobrevivência dos Avá-Canoeiro”. Processo Funai, n° 253/83:117-168. Brasília: Funai.
_____. 1984/1985. “Os índios negros ou os Carijó de Goiás ”“ A história dos AváCanoeiro”. Revista de Antropologia, 27/28:287-325.
_____. 1986. “Sem perspectivas ”“ dispersão e isolamento impedem continuidade dos Avá-Canoeiro”. Povos Indígenas no Brasil, 85/86:371-372. Aconteceu Especial, 17, Cedi. São Paulo: Guteplan.
_____. 1995. “O destino de um grupo caçador e coletor: os Avá-Canoeiro, hoje”. In: Aracy Lopes da Silva & Luis D. Benzi Grupioni (orgs.). A temática indígena na escola ”“ novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC/Mari/Unesco. pp 73-75.
_____. 1998. “Avá-Canoeiro”. In: Enciclopédia dos povos indígenas. Disponível em: www. socioambiental.org. São Paulo: ISA.
_____. 1992. Cosmologia e sociedade Karajá. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
TOSTA, Lena Tatiana Dias. 1997. “Homi matou papai meu”: uma situação histórica dos AváCanoeiro. Monografia de Graduação, Universidade de Brasília.
VILLAS BÔAS, Orlando & VILLAS BÔAS, Cláudio. 1994. A marcha para o oeste: a epopeia da Expedição Roncador-Xingu. São Paulo: Globo.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. 1986. Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar/ANPOCS.

Publicado

2018-02-19

Cómo citar

Rodrigues, Patrícia de Mendonça. 2018. «Os Avá-Canoeiro Do Araguaia E O Tempo Do Cativeiro». Anuário Antropológico 38 (1):83-137. https://www.periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6875.

Artículos similares

1 2 > >> 

También puede {advancedSearchLink} para este artículo.