Parâmetros para a leitura crítica da canção na obra tardia de Chico Buarque
DOI:
https://doi.org/10.26512/cerrados.v34i67.56948Palavras-chave:
canção brasileira, Chico Buarque, crítica literária dialéticaResumo
O trabalho enfoca a constituição do eu cancional em duas canções do álbum Caravanas (2017), de Chico Buarque: “Tua cantiga” e “As Caravanas”. Parte-se do pressuposto de que o referido álbum pode ser concebido como uma síntese forte tanto do sistema cancional brasileiro quanto da própria obra de Chico Buarque anterior aos anos 2000. Assim, em diversos sentidos, Caravanas é comentário de dois sintomas socioculturais do Brasil contemporâneo: i) a “morte da canção”, como forma de reação propriamente estética ao fim das fantasias integradoras de imaginação da nação e ii) a “fratura social”, como fantasia fundante da imaginação hodierna do Brasil. As duas canções configuram-se, por sua vez, como expressões máximas da problemática que envolve esses dois sintomas. Os problemas estéticos da construção da voz cancional em cada uma delas é, portanto, campo privilegiado para se enxergar, através das formas literárias e cancionais, a dinâmica do processo social contemporâneo em curso no país. Destacam-se, entre esses elementos, a ficcionalização do eu lírico, o endereçamento poético, os modos específicos de entoação cancional e a presença de elementos poético-musicais arcaicos, ritualísticos, da tradição literária ocidental e outros, extraídos da grande cultura da diáspora negra, que fundam a própria forma canção no Brasil.
Downloads
Referências
BUARQUE, Chico. Caravanas. CD, Biscoito Fino, 2017.
CANDIDO, Antonio. Literatura de dois gumes. In: CANDIDO, Antonio. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 2000.
CULLER, Jonathan. The theory of the lyric. Cambridge: Harvard University Press, 2015.
DUNKER, Christian Ingo Lenz. Mal-estar, sofrimento e sintoma. Uma psicopatologia do Brasil entremuros. São Paulo: Boitempo, 2015.
DUNKER, Christian Ingo Lenz. Reinvenção da intimidade – políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu Editora, 2017. p.297.
LUKÁCS, György. Concretização da particularidade como categoria estética em problemas singulares. In: Introdução a uma estética marxista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 181-298.
NOBRE, Marcos; ZAN, José Roberto. A vida após a morte da canção. Serrote, São Paulo: Instituto Moreira Salles, n. 6, nov. 2010. Disponível em: <https://revistaserrote.com.br/2011/07/a-vida-apos-a-morte-da-cancao/>. Acesso em: 23 fev. 2018.
FISCHER, Luís Augusto; LEITE, Carlos Augusto Bonifácio (org.) O alcance da canção – estudos sobre música popular. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2016. p. 10-29.
SCHWARZ, Roberto. O país do Elefante. Folha de S. Paulo, São Paulo, 10 mar. 2002. p. 4-13.
SCHWARZ, Roberto. Os sete fôlegos de um livro. In: SCHWARZ, Roberto. Sequências brasileiras: ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 46-58.
SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.
WOLOSKY, Shira. The Art of Poetry. How to Read a Poem. Oxford: Oxford UP, 2008.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Revista Cerrados

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Proibida a reprodução parcial ou integral desta obra, por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por processo xerográfico, sem permissão expressa do editor (Lei n. 9.610 de 19/2/1998 )