Da ciência hegemônica à experiência sensível de pesquisa: um caminho ético-político

De la ciencia hegemónica a la experiencia sensible de investigación: un camino ético-político

From hegemonic science to sensitive research experience: an ethical-political path

Flávia Naves Samanta Borges Pereira




Destaques


A ciência hegemônica limita os impactos positivos do conhecimento e menospreza a reflexividade na pesquisa.


A experiência sensível de pesquisa prioriza a ética, incorporando a subjetividade inerente à pesquisa social.


Pesquisa é processo construído com o outro, que transforma o sujeito pesquisador transpassado pela experiência.


Resumo


A consolidação do modelo hegemônico de ciência limita os impactos positivos do conhecimento, estimula o produtivismo e menospreza a reflexividade da pesquisa. O objetivo deste ensaio é discutir as possibilidades da pesquisa como experiência sensível nas Ciências Sociais. Ancorados nos conceitos de experiência de Jorge Larrosa Bondía e na condição sensível de Claudine Haroche, propomos uma aproximação da experiência de pesquisa, priorizando a ética, incorporando a subjetividade. Nessa perspectiva, a pesquisa é um processo que se constrói com o outro e que leva à transformação do sujeito pesquisador transpassado pela experiência.

Resumen | Abstract


Palavras-chave

Ciência. Reflexividade. Experiência sensível. Pesquisa. Ética.


Recebido: 13.03.2023

Aceito: 30.05.2023

Publicado: 10.07.2023

DOI: https://doi.org/10.26512/lc29202347546


Introdução


As Ciências Sociais têm se constituído como uma entidade distante da vida da maioria das pessoas, tornando-se elitizadas e desumanizadas, o que reflete um processo de dominação europeia e estadunidense sobre a concepção, produção e divulgação científica (Lander, 2005; Barbosa, 2017). As Ciências Sociais se expandiram, globalmente, como uma interpretação única de fenômenos sociais, apagando experiências de sociabilidade, trabalho e vida distintas do padrão hegemônico (Santos, 2001; Lander, 2005; Castro-Gómez & Grosfoguel, 2007; Mignolo, 2014).

Nesse contexto, a concepção da pesquisa, desde os temas a serem abordados, passando por teorias, métodos, fluxos de produção e análise de informações, aspectos éticos, até os usos do conhecimento, é controlada por um conjunto de parâmetros que se justificam pelo argumento do rigor científico, mas que, frequentemente, inviabiliza a prática da pesquisa ou a torna estéril, sem sentido nos contextos sociais nos quais se desenvolve (Cusicanqui et al., 2016; Sá et al., 2020).

O campo científico caracteriza-se por uma dinâmica performativa, que altera nossas práticas diárias de construção de saberes, bem como reconfigura as definições gerais e padrões de qualidade e valor, predominantemente avaliadas em função do número de produtos produzidos (Machado, 2018; Pereira, 2018). Como consequência desse modelo, identifica-se, nas instituições de pesquisa, um clima generalizado de cansaço, adoecimento e alienação (Alcadipani, 2011; Pereira, 2018), estabelecendo-se um ambiente de competição à imagem do discurso de mercado.

Muitas críticas têm sido elaboradas sobre as implicações do modelo hegemônico de ciência, seus impactos sobre a produção, resultados e impactos da pesquisa social na contemporaneidade (Santos, 2001; Lander, 2005; Cusicanqui et al. 2016).

Neste ensaio, argumentamos que, para enfrentar essa situação, é preciso discutir e produzir mudanças na produção do conhecimento, dominado por uma concepção hegemônica de ciência que, ao defender a neutralidade, institucionaliza o desprezo pela subjetividade do pesquisador e dos demais sujeitos que constroem a pesquisa, negando a capacidade reflexiva da interação desses atores (Fourez, 1995; Chauí, 1997; Grosfoguel, 2008). Assim, nosso objetivo é discutir a pesquisa como experiência sensível, que entende a subjetividade, como aspecto essencial de uma Ciência Social significativa. Defendemos o fazer científico, como experiência que nos transpassa, transforma-nos e sensibiliza-nos, tendo como ponto de partida as elaborações sobre experiência/sentido de Jorge Larrosa Bondía e sobre condição sensível de Claudine Haroche.

A proposição apresentada é derivada de um projeto mais amplo, resultado de tese de doutorado, na qual se investigou a experiência sensível de pesquisa de investigadores do campo das ciências sociais aplicadas (Pereira, 2022). Parte dessa pesquisa buscou “compreender o conhecimento que emerge das interações vividas entre pesquisadores e sujeitos subalternizados” (Pereira & Mafra, 2023) e discutiu a condição sensível da experiência de pesquisa em tempos de pandemia (Pereira et al., 2022).  Nesse sentido, o campo teórico e as discussões que conduzem este trabalho estão presentes em pesquisas anteriores e orientam novos trabalhos em andamento.

Nos próximos tópicos, abordamos as implicações, para a produção do conhecimento da imposição de um modelo único de ciência; discutimos as possibilidades da pesquisa como processo reflexivo e ético. Por fim, apresentamos a proposta de experiência sensível de pesquisa antes de pontuarmos algumas reflexões finais.

Ciência hegemônica e suas implicações para a pesquisa e pesquisadores


O século XVII marca a legitimação da ciência moderna, o que ocorreu como resultado do apagamento e da apropriação de conhecimentos, desenvolvidos por povos dominados pelos europeus (Santos, 2001; Wallestein, 2002; Lander, 2005; Castro-Gómez & Grosfoguel, 2007; Machado, 2018).

A colonização instituiu a Europa como o centro do mundo, e a dominação foi a base para a formação do primeiro padrão de poder mundial (Barros, 2019). O eurocentrismo é uma atitude colonial de superioridade do conhecimento, que consolida as desigualdades entre países do Norte e Sul global e as hierarquias étnico-raciais, aspectos centrais do sistema-colonial-capitalista-moderno (Castro-Gómez & Grosfoguel, 2007). Tal sistema tornou-se hegemônico, silenciando, ignorando, omitindo e excluindo outros saberes e formas de produzir conhecimentos. Os critérios que orientam o funcionamento do campo científico, ainda hoje, são resultado dessas relações de poder.

Ao se tornar hegemônica, a ciência moderna definiu também um padrão de sociedade que a sustenta e legitima (Santos, 2001; Lander, 2005). Conforme Castro-Gómez (2005, p. 81), “a palavra escrita constrói leis e identidades nacionais, planeja programas modernizadores, organiza a compreensão do mundo em termos de inclusões e exclusões”.

Embora seja possível identificar manifestações e movimentos que buscam tencionar a hegemonia da ciência moderna, propondo debates e mudanças, para uma renovada ética científica (Sayago & Bursztyn, 2006), seus impactos ainda são frágeis diante da estruturação do campo científico enraizada em relações globais e historicamente consolidadas de dominação.

Os mecanismos institucionalizados, para o reconhecimento de processos e produtos científicos, ramificam-se globalmente, sendo incorporados por pesquisadores e estruturas acadêmicas, inclusive de regiões periféricas do mundo, reforçando desigualdades e desvalorizando os conhecimentos produzidos nesses espaços sociais (Sayago & Bursztyn, 2006; Cusicanqui et al., 2016).

Ao longo do tempo, a organização do saber científico – instrumento de poder – torna-se cúmplice do mercado (Bondía, 2002; Sayago & Bursztyn, 2006; Barbosa, 2017), ignorando a complexidade da vida social, as necessidades das pessoas (Machado, 2018) e a reflexividade dos pesquisadores, características necessárias para pensar a própria ciência (Carvalho & Vieira, 2003; Silva et al., 2009; Alcadipani, 2011; Cusicanqui et al., 2016).

Esses argumentos não objetivam negar a contribuição da ciência, mas analisá-la criticamente, como forma de ampliar suas contribuições para sociedades conflituosas e ameaçadas. A ciência moderna se distanciou do humanismo (Machado, 2018), ao mesmo tempo que reforçou dicotomias tais como: cultura/natureza, sujeito/objeto, subjetivo/objetivo, entre outras, que simplificam o mundo e escondem conflitos (Pereira & Mafra, 2023). Tais dicotomias orientam e garantem a hegemonia do conhecimento científico ao mesmo tempo que marginalizam a subjetividade (Lander, 2005; Sayago & Bursztyn, 2006; Germano & Kulesza, 2010; Cusicanqui et al., 2016; Pereira & Mafra, 2023).

O princípio da objetividade, que justificaria a cisão entre sujeito e objeto de conhecimento (Chauí, 1997), ignora (e esconde) que realidade e conhecimento envolvem inter-relações e interdependências relativas aos contextos culturais que se têm como referência (Fourez, 1995).

A objetividade científica torna-se uma ideia frágil, à medida que compreendemos que os sujeitos de pesquisa estão situados, em contextos culturais específicos, vivenciando contradições sociais que se refletem sobre a produção do conhecimento (Castro-Gómez & Grosfoguel, 2007; Grosfoguel, 2008).

Amparada no pilar do rigor científico, a ciência apaga o sujeito de enunciação, em prol da defesa de uma [suposta] neutralidade, instrumentalizando também o trabalho do pesquisador. Esse mantra que se propaga na formação de pesquisadores se torna uma camisa de força, que inviabiliza a prática da pesquisa científica ou a torna estéril, sem sentido, nos contextos sociais, nos quais se desenvolve (Godoi et al., 2010; Sá et al., 2020). O pesquisador se depara com uma série de manuais de metodologia, que apresentam regras tão rígidas que fazem com que ele desconfie de sua capacidade de fazer a pesquisa (Kaufmann, 2013).

A formação dos pesquisadores se reduziu à produção de resultados científicos, sem considerar as implicações sociais, fazendo-nos esquecer a que(m) a ciência pode servir (Fourez, 1995). A operacionalização, linear e não dialógica de técnicas e métodos, aproxima toda a pesquisa de um experimento, no qual as relações são desumanizadas. Para Morin (1998), a ciência está fechada, manipulada pela tecnologia e as teorias estão simplificadas, à beira da degradação. Para o autor, a teoria tornou-se utilitarista, mantendo apenas o operacional (a técnica); doutrinária, fechando-se à contestação; e vulgar, difundindo-se pelo consumo, esvaziando sua complexidade.

A pesquisa qualitativa, particularmente, enfrenta os questionamentos dos parâmetros científicos dominantes que rejeitam seu caráter inerentemente fluido e sensível (Kaufmann, 2013). Pesquisadores qualitativos, com frequência, encontram-se acuados entre uma justificação que nunca é suficiente e uma tentativa de se adequar aos ritmos de pesquisas de vertentes quantitativas.

Nesse cenário dominado pela performatividade (Pereira, 2018), o fazer científico torna-se luta. Tal situação tem particularidades, no contexto brasileiro, no qual estamos imersos. A pesquisa, no Brasil, envolve atividades didáticas, técnicas e burocráticas, que criam um ambiente inadequado para a reflexão e produção científica (Alcadipani, 2011; Sá et al., 2020). O vínculo institucional sólido permite a realização de pesquisas, mas os protocolos impostos pelas instituições cerceiam o olhar e a escuta para vozes não legitimadas pelos comitês que julgam a adequação das empreitadas de pesquisa (Barcinski, 2014).

Para atender aos requisitos de produtividade do mercado acadêmico (Carvalho & Vieira, 2003; Alcadipani, 2011), os resultados são priorizados em detrimento dos processos, dos diálogos entre os pares, dos debates, e do tempo necessário para a reflexão.

A racionalidade homogeneizadora da ciência moderna elimina as complexidades e as diferenças da produção do conhecimento, reduzido-as a uma linha de montagem. A ênfase nas técnicas que possibilitam a replicação e (re)produção rápida de “conhecimento”, privilegiando quantidade à profundidade, tem levado à superficialidade dos achados, distantes de contribuições efetivas para o campo científico e das necessidades sociais dos próprios lugares e contextos investigados.

Diante desse cenário, argumentamos que enfrentar os limites da ciência hegemônica demanda uma mudança profunda na concepção do que é fazer ciência. Nesse sentido, alinhamo-nos e buscamos contribuir com as discussões sobre a pesquisa como prática política, reflexiva, articulada às necessidades específicas de diferentes contextos socioculturais (Carvalho & Vieira, 2003; Ibarra-Colado, 2006; Alcadipani, 2011; Sá et al., 2020). Tal mudança implica refletirmos sobre a produção científica, entendida como experiência de interação humana, situada em conjunturas de pressões e desigualdades, que não podem ser completamente ignoradas ou controladas, com prejuízos para o próprio campo de conhecimento.

Pesquisa, reflexividade e ética


Para Santos (2001), a ciência não descobre um “novo” conhecimento. O conhecimento depende da perspectiva do sujeito que pesquisa. Nesse sentido, o ato criativo protagonizado por cada cientista e/ou pela comunidade de cientistas demanda que esse ator e/ou grupo se conheça intimamente, antes de conhecer o que pretende conhecer. Essa condição epistemológica da ciência reverbera na existência do cientista. Todo conhecimento é, portanto autoconhecimento e todo desconhecimento também é autodesconhecimento (Santos, 2001). As dinâmicas de interação científica (processo, sujeitos e resultados) fazem com que tanto objetos quanto pessoas, sejam mutuamente afetados (Machado, 2018; Pereira & Mafra, 2023).

Os pesquisadores são geradores de conhecimento, em nossa sociedade (Carvalho & Vieira, 2003), mas tal processo vai muito além das orientações de um protocolo. A realização da pesquisa é uma atividade de significativa complexidade e envolve escolha de tema, objeto, método e uma infinidade de outras decisões que impregnam o pesquisador e exigem dele muita dedicação, equilíbrio emocional e paciência (Alcadipani, 2011). As decisões de pesquisa são resultado de características pessoais e competências profissionais, bem como de pressões estruturais e relações construídas com outros atores sociais ao longo do trabalho. Em meio a tantos elementos, que permeiam a pesquisa, a reflexividade torna-se um porto seguro para o pesquisador na construção de um conhecimento relevante e ético.

A consciência ativa e reflexiva constitui nossa consciência, como subjetividade ativa, o centro da razão e do pensamento (Chauí, 1997), o que nos constitui como sujeitos do conhecimento. Reflexividade se refere à compreensão de que moldamos, de forma intencional e não intencional, o mundo social e natural em que vivemos e que, portanto devemos aceitar a responsabilidade pelo que fazemos e dizemos (Cunliffe, 2020). No âmbito da pesquisa, a reflexividade é um processo de aprendizagem, que ocorre na interação entre pesquisador e participantes, o que permite ao indivíduo atribuir sentido a essa experiência (Cunliffe, 2020).

Embora a definição anterior aponte a centralidade da reflexividade, trazendo, consequentemente, a questão sobre subjetividade e experiência, tais temas têm sido tratados de forma isolada, como se fossem aplicados apenas a contextos e recortes específicos de pesquisa. Em vez de compreender a subjetividade como inerente à pesquisa, ela passa a ser tratada como um atributo de pesquisas em torno dos denominados “temas sensíveis”.

Temas sensíveis são definidos como aqueles que podem acarretar consequências emocionais decorrentes do desenvolvimento da pesquisa aos seus participantes (Sieber & Stanley, 1988; Lee & Renzetti, 1993; Díaz Fernández et al., 2012). Apesar da delimitação, as orientações metodológicas, para lidar com tais temas, não diferem, na essência, das orientações gerais, para a realização de pesquisas qualitativas (Denzin & Lincoln, 1994), reforçando a necessidade de garantir isenção e neutralidade da pesquisa, por exemplo. Mesmo no âmbito dos temas sensíveis, nega-se a subjetividade dos sujeitos da pesquisa – tanto pesquisadores quanto pesquisados. Por isso, propomos considerar não o tema, mas o aspecto sensível que envolve as pesquisas sociais, ponto de partida para avançarmos na proposição de uma experiência sensível de pesquisa.

Isso implica repensar fontes de informações, metodologias, os papéis das pessoas que vivenciam os fenômenos que estudamos, as pessoas com quem trabalhamos na pesquisa e o próprio pesquisador. O debate sobre reflexividade tem produzido mudanças nas formas de compreender e conduzir pesquisas em múltiplas áreas do conhecimento, enfatizando a ética que orienta a pesquisa (Sayago & Bursztyn, 2006; Romero, 2008; Sá & Mattos, 2016).

Ética, nesse debate, vai além das orientações formais e burocráticas. Pereira et al. (2019) apontam que os protocolos direcionados para a ética e proteção dos sujeitos da pesquisa contribuem para a manutenção de assimetrias entre o pesquisador e aqueles que participam da pesquisa. As autoras e o autor defendem uma ética direcionada, para o comprometimento sociopolítico do trabalho de pesquisa que, por sua vez, depende do envolvimento e das implicações do pesquisador no campo. Em outras palavras, precisamos superar o aspecto prescritivo da ética, avançando para um processo negociado, responsável, em diálogo com todos os envolvidos na pesquisa (Silva et al., 2009; Sá & Mattos, 2016; Pereira et al., 2019; Pereira & Mafra, 2023).

A ética, assim como a reflexividade, demanda o engajamento do pesquisador, em um processo de construção linguística de dupla “tradução”, trabalho que exige uma conjugação de tempos, ritmos e oportunidades, para não se converter em novos modos de imperialismo (Santos, 2002). A ética na pesquisa está no compromisso do pesquisador em não reduzir as experiências locais a uma concepção hegemônica do conhecimento, aceitando e enfrentando o fato de que o seu conhecimento, suas interpretações daquela realidade e suas atitudes podem ser ou não validadas pelas pessoas com as quais interage. Nesse sentido, a construção crítica do cientista social, que ocorre por meio do entendimento dos contextos locais de pesquisa e a elaboração, para além dos modelos teóricos de referência, demandam uma posição ética no sentido de:

[…] um trabalho mais sensível de aproximação e escolha mútua junto àqueles que se quer pesquisar. […] Trata-se de processo de socialização do pesquisador e de sua inclusão nos espaços relacionais necessários (associações, parceiros de negócios, funcionários etc.). Esta substituição da busca unilateral altera limites e pode levar a pensar metodologicamente diferente. (Sá & Mattos, 2016, p. 657)

A sensibilidade incorporada à pesquisa ultrapassa abstrações, reproduções e cálculos e efetivamente impregna o corpo do pesquisador. Ao encarnarmos os dados, trazemos para o corpo, para os nossos sentimentos e sentidos – de alegria ou tristeza, de dor ou de deleite, de satisfação ou de frustração – aquela realidade que, a princípio, não estava em nós. Não somos mais neutros, sentimos e expandimos nossa capacidade de apreensão, percepção e compreensão da realidade (Pereira & Mafra, 2023). As inquietações e informações incorporadas integram a experiência de pesquisa e uma dimensão frequentemente desprezada do fazer ciência.

Compreendemos que, para avançar na pesquisa acadêmica, na produção de conhecimento, somos chamados a olhar pelo avesso os processos, nos quais fomos socializados e formados, para promover uma ruptura epistemológica e metodológica (Machado, 2018). Embora o termo ruptura possa soar radical, tal expressão refere-se à necessidade de construir uma relação de respeito, cuidado e atenção com teoria, dados, pessoas, objetos empíricos e, sobretudo, com as condições sociais de emergência da pesquisa (Machado, 2018). Argumentamos que tal rompimento implica a priorização da ética e o reconhecimento da subjetividade inerente à pesquisa, o que se torna viável, por meio do conceito de experiência sensível de pesquisa, discutido a seguir.

Experiência sensível de pesquisa: uma proposta ética e política


O rompimento epistemológico a que se refere Machado (2018) é, ao mesmo tempo, condição e resultado da reflexividade e de uma postura ético-política em pesquisa. Isso implica tirar o foco dos produtos (termo frequentemente vinculado à avaliação de projetos de pesquisa), resultados da ética protocolar e compreender a interação entre sujeitos de pesquisa, como forma de trazer à tona uma racionalidade mais plural, em que “o conhecimento volte a ser uma aventura encantada” (Santos, 2001, p. 36), – ideia que, certamente, seduziu muitos daqueles que se voltaram para o campo científico.

A postura ético-política antecede a relação com os sujeitos do campo e se desenrola nas demais etapas da investigação e da vida do pesquisador. Desenha-se, portanto, como um caminho ético-político (e não um protocolo), ponto de partida e percurso que estabelece um modo de conceber e realizar a pesquisa e as interações com os sujeitos do campo.

Para Santos (2002), é necessário construir uma racionalidade nova, para apreender a ampla experiência social do mundo, que tem sido ignorada e desperdiçada pelas limitações e não reconhecimento da ciência hegemônica. Nesse sentido, sugerimos que a experiência sensível implica uma nova racionalidade de pesquisa que, orientada, primordialmente, pela reflexividade e pela ética, revela-se um caminho para apreender a experiência social desperdiçada. Ou seja, para compreender a complexidade social, é preciso desenvolver uma nova racionalidade, na qual a pesquisa seja vivida também como experiência (Pereira & Mafra, 2023). Para essa discussão, apresentamos as concepções de experiência (Bondía, 2002) e de sensibilidade ou condição sensível (Haroche, 2008).

Interagir com as múltiplas formas de vivenciar o mundo é uma oportunidade de sermos e estarmos nesse mundo, relocalizando nossa posição ético-política (Romero, 2008), e concebendo outras possibilidades de mundos (Santos, 2002). Nesse sentido, propomos que a pesquisa seja compreendida como uma experiência sensível, capaz de produzir outros e significativos conhecimentos.

Para Bondía (2002), experiência não é algo que se passa, mas algo que nos passa, que se passa em nós e, por isso, a experiência tem sido algo fortuito, algo cada vez mais raro. Haroche (2008), em “A condição sensível”, examina e questiona as mudanças nas formas de sentir, as condições de sentir e nossa (in)aptidão para sentir nas sociedades contemporâneas. O termo condição relaciona-se à atualização dos processos tanto na vida em sociedade quanto no íntimo das pessoas. Nessa ótica, a condição sensível (Haroche, 2008) se refere aos resultados éticos e estéticos das escolhas humanas – públicas e privadas – mediadas por sentidos e sentimentos.

Assim, no âmbito da pesquisa, nossa compreensão sobre condição sensível se refere às formas e escolhas no fazer ciência, aos princípios que orientam as escolhas, à medida que assentimos (ou não) sermos transpassados por essa experiência (Pereira & Mafra, 2023).

A noção de condição sensível nos permite resgatar a subjetividade marginalizada na pesquisa, levando-nos a uma revisão sensível e reflexiva de protocolos, regras e hierarquias, que alicerçam e também limitam as possibilidades da ciência alcançar maior relevância e que têm limitado seu alcance.

Compreender a pesquisa como experiência implica romper com dogmas que orientam a ciência hegemônica, tais como: neutralidade, objetividade e, mais recentemente, o produtivismo. Para Bondía (2002), a experiência requer um instante de interrupção, suspendendo os automatismos: pensar, olhar, escutar e sentir lentamente, compartilhando o que nos acontece, preservando e fortalecendo os momentos de encontro, dando-nos tempo e espaço para nossas reflexões, percepções, sentidos, sentimentos. Se o pensamento é central para a ciência, para Haroche (2008) é impossível pensar quando não há duração, profundidade, ausência de pausas, o que faz o pensamento se perder no fluxo das sensações. É preciso tempo, para dialogar e negociar com os sujeitos, nos espaços concretos, em que se constrói, coletivamente, a pesquisa (Silva et al., 2009; Sá & Mattos, 2016; Cunliffe, 2020), para refletir sobre indagações (e autoquestionamentos) que surgem na pesquisa (Ocaña & López, 2019) para ser criativo e encontrar satisfação nesse trabalho (Santos, 2002).

Haroche (2008) afirma que a ciência não tem mais tempo de aprofundar as questões mais do que meros acontecimentos, produzindo conhecimentos efêmeros que tendem à superficialidade. Bondía (2002) chamou esses acontecimentos de informações – e o excesso de informação impede a experiência. O sujeito da informação é obsessivo pela informação, mas o que ele consegue é que nada lhe aconteça e, portanto é ausente de experiência. O sujeito pesquisador obcecado pela informação priva-se do saber da experiência, pois está focado no conhecimento superficial, efêmero, descartável. Ao contrário, a experiência sensível de pesquisa valoriza o protagonismo, a responsabilidade, a criatividade e a ética do cientista, que se manifesta em toda a experiência de pesquisa e não apenas nos seus resultados.

A experiência, portanto não se define por um raciocínio calculado, mas pela possibilidade de algo acontecer em nós (Bondía, 2002). A experiência é algo diferente do que já sabemos, do que já vivemos, do que já sentimos. Um acontecimento plenamente inteligível e compreensível impede que algo realmente nos aconteça, que nos transpasse, que nos (trans)forme. O cálculo, o controle, a total previsibilidade impedem a experiência e as descobertas que deles decorrem. Isso não significa abandonar planejamento, ou pressuposições que fazem parte da curiosidade e da formação científica. Contudo tal planejamento deve ser flexibilizado em função do contexto e das relações que o pesquisador estabelece com outras pessoas na experiência de pesquisa.

O “outro” deve ser compreendido como sujeito, como ser humano e não como objeto e fonte de informação. Tanto o pesquisador quanto as pessoas que participam da pesquisa falam de um lugar geopolítico e corpo-político específico (Grosfoguel, 2008). Ao reconectar o sujeito da enunciação e o lugar epistêmico étnico-racial/sexual/de gênero, é possível descontruir um suposto conhecimento universal, que esconde desigualdades e injustiças.

A experiência sempre acontece na relação com o outro. Mas é uma relação com o outro, que acontece em nós, interpelando-nos, ferindo-nos, cativando-nos, transpassando-nos, transformando-nos. A experiência, portanto é um movimento de ida e volta, do outro, que passa em nós e nos transforma (Bondía, 2002; 2006). A experiência sensível de pesquisa questiona a objetividade e neutralidade defendidas pela ciência hegemônica, pois compreende o fazer científico: a) com o outro, numa perspectiva relacional; b) num processo de transformação do próprio sujeito pesquisador transpassado pela experiência.

A intenção de eliminar a eventualidade de uma hesitação ou dúvida (que demandaria tempo e reflexividade) impõe o instantâneo, o imediato, que afasta a possibilidade de perceber, olhar e ouvir distintamente (Haroche, 2008), impedindo a experiência. O suposto rigor científico inibe o pesquisador de expor suas tentativas e erros (Kaufmann, 2013), sob a pena de ser visto e sentir-se fracassado. Mas o sujeito da experiência é um sujeito “ex-posto”, assumindo a vulnerabilidade e o risco que essa exposição impõe (Bondía, 2002). O sujeito da experiência sensível de pesquisa se permite o erro, reconhecendo as dimensões incertas da pesquisa. Assim, a ideia de experiência sensível humaniza a pesquisa, minimizando a ênfase na técnica e resgatando a centralidade das relações, social e culturalmente contextualizadas.

A experiência também é cada vez mais escassa por excesso de trabalho, frequentemente, confundido com experiência. O sujeito moderno é alguém que trabalha, no sentido de conformar o mundo de acordo com o seu saber (Bondía, 2002). Esse trabalho, portanto é o trabalho que visa adequar o mundo natural, social, humano, segundo normas estabelecidas. No campo científico, os pesquisadores, sobrecarregados com burocracias e avaliados pela quantidade de publicações, gastam mais tempo, preenchendo formulários e formatando textos que construindo relações no campo ou com outros pesquisadores, numa extenuante dinâmica performativa (Pereira, 2018). E porque não podem parar, nada acontece, não experimentam a pesquisa.

Jay (2009) argumenta que a experiência jamais nos deixa no mesmo lugar, pois, para que seja experiência, é preciso que uma mudança aconteça. A experiência sensível de pesquisa pode gerar um novo conhecimento científico, um aprendizado ou um ensinamento de vida. Para Bondía (2002), o saber da experiência se configura dentro de cada pessoa, mas adquire sentido à medida que se realiza como uma forma de presença ética e estética no mundo. O contexto, a linguagem, a paisagem, as práticas, os hábitos, as relações diferentes com que nos deparamos na pesquisa – quando tratadas em sua especificidade, reconhecidas e validadas e não reduzidas a teorias e visões de mundo externas – permitem uma compreensão mais realista de fenômenos sociais que nos transformam. A experiência é, portanto sempre subjetiva, o que significa também que não existe experiência geral. Ela é sempre singular (Bondía, 2006).

A experiência sensível de pesquisa, sugerida como uma perspectiva que incorpora uma nova racionalidade em oposição à ciência hegemônica, caracteriza-se pelo protagonismo da reflexividade, da ética num processo reconhecido como humano, social e político. Para isso, é necessário, como defende Mignolo (2014), “aprender a desaprender”, abandonando ativamente as formas modernas de conhecer, que modelam nossas subjetividades. Contudo não é um processo simples, que depende exclusivamente de um esforço heroico de pesquisadores, individualmente. É preciso atentar para o peso das estruturas que determinam e julgam o que é fazer ciência em nossas sociedades, frequentemente, alinhadas com o projeto hegemônico da modernidade.

Reflexões finais


Nosso objetivo neste ensaio foi discutir a pesquisa como experiência sensível, elaborando um panorama crítico da ciência hegemônica, a partir do qual discutimos as limitações desse modelo para a apreensão das dinâmicas sociais na contemporaneidade, resultantes de princípios que marginalizam a subjetividade inerente às relações que são centrais na pesquisa social. Orientada por princípios eurocêntricos, a ciência moderna torna-se instrumento de poder sobre os contextos periféricos. Esse modelo de ciência tem sido criticado, em diversas áreas do conhecimento, pela incapacidade de se conectar com as questões mais relevantes de nosso tempo e nossas sociedades, resultado da ausência de reflexividade e ética, que impede a compreensão do fazer pesquisa como um processo permeado de subjetividade.

A pandemia da Covid-19 impôs mudanças profundas, em nossas sociedades, afetando inclusive o fazer científico. Se, por um lado, as descobertas científicas se mostraram essenciais, para o enfrentamento da pandemia, por outro, foi exposta a legitimidade frágil da ciência na sociedade. O contexto pós-pandêmico coloca desafios, para a aproximação entre ciência e sociedade, demandando um aprofundamento da reflexividade e da ética em pesquisa. Práticas que se tornaram comuns, no período de isolamento social, como a intensificação do uso de tecnologia como mediadora principal da relação entre os sujeitos de pesquisa – e que ainda perduram – reforçam a distância entre o pesquisador e os contextos concretos aos quais a pesquisa se refere. Ao mesmo tempo, as interações sociais foram radicalmente transformadas pela pandemia. A maioria das pessoas precisa reaprender a se socializar, o que torna as interações de pesquisa mais complexas e o debate ético-político essencial.

Para além das críticas, o enfrentamento ao modelo de ciência hegemônica demanda uma nova racionalidade, que oriente o fazer científico. Uma racionalidade que permita apreender o processo de pesquisa como experiência, mais especificamente para uma experiência sensível. Essa noção permite incorporar a subjetividade característica da pesquisa social e rever protocolos éticos, formais, que se propõem a garantir o rigor científico, mas que têm limitado o alcance e a relevância da ciência.

Para permitir a reflexividade e a priorização da ética, a experiência sensível de pesquisa exige tempo: para pensar, para construir relações, para aceitar a dúvida e a hesitação como parte do processo. Além disso, a experiência sensível convida o pesquisador a superar o excesso de trabalho e informação, que criam obstáculos à construção de uma relação aberta com outras pessoas e contextos.

A racionalidade da experiência sensível de pesquisa toma o fazer científico como um processo que se constrói com o outro, numa perspectiva relacional e que leva à transformação do próprio sujeito pesquisador, transpassado pela experiência.

Esperamos, com este ensaio – que compõe um projeto mais amplo de pesquisa – sensibilizar e aguçar a curiosidade de acadêmicos para o debate sobre as condições e possibilidades do fazer científico. Desse debate, poderiam surgir inovações metodológicas, estratégias de formação e de suporte para pesquisadores. Além disso, pretendemos desnaturalizar a pesquisa, chamando a atenção, para a dimensão ética e política, não restrita aos mecanismos burocráticos e formais que envolvem a experiência de pesquisa.

Referências


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Sobre os autores


Flávia Naves


Universidade Federal de Lavras, Lavras, Minas Gerais, Brasil

https://orcid.org/0000-0003-2501-8904


Doutora em Ciências Sociais, Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2006). Professora titular da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Lavras. Membro do grupo de pesquisa Laboratórios de Estudos Transdisciplinares. E-mail: flanaves@ufla.br


Samanta Borges Pereira


Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, Minas Gerais, Brasil

https://orcid.org/0000-0002-6803-1415


Doutora em Administração pela Universidade Federal de Lavras (2022). Pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento, Tecnologias e Sociedade da Universidade Federal de Itajubá. Membro do grupo de pesquisa Laboratórios de Estudos Transdisciplinares. E-mail: samantaborges81@gmail.com



Resumen


La consolidación del modelo hegemónico de ciencia limita los impactos positivos del conocimiento, fomenta el productivismo y socava la reflexividad de la investigación. El propósito de este ensayo es discutir las posibilidades de la investigación como experiencia sensible en las Ciencias Sociales. Anclados en los conceptos de experiencia, de Jorge Larrosa Bondía, y en la condición sensible, de Claudine Haroche, proponemos una aproximación de la experiencia investigativa, priorizando la ética, incorporando la subjetividad. Desde esta perspectiva, la investigación es un proceso que se construye con el otro y que conduce a la transformación del sujeto de investigación atravesado por la experiencia.


Palabras clave: Ciencia. Reflexividad. Experiencia sensible. Investigación. Ética.



Abstract


The consolidation of the hegemonic model of science limits the positive impacts of knowledge, encourages productivism and undermines the reflexivity of the research. The purpose of this essay is to discuss the possibilities of research as a sensitive experience in the Social Sciences. Anchored in the concepts of experience, by Jorge Larrosa Bondía, and in the sensitive condition, by Claudine Haroche, we propose an approximation of the research experience, prioritizing ethics, incorporating subjectivity. From this perspective, research is a process that is built with the other and that leads to the transformation of the research subject pierced by experience.


Keywords: Science. Reflexivity. Sensitive experience. Research. Ethics.



Linhas Críticas | Periódico científico da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, BrasilISSN eletrônico: 1981-0431 | ISSN: 1516-4896

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Referência completa (APA): Naves, F., & Pereira, S. B. (2023). Da ciência hegemônica à experiência sensível de pesquisa: um caminho ético-político. Linhas Críticas, 29, e47546. https://doi.org/10.26512/lc29202347546

Referência completa (ABNT): NAVES, F., & PEREIRA, S. B. Da ciência hegemônica à experiência sensível de pesquisa: um caminho ético-político. Linhas Críticas, 29, e47546, 2023. DOI: https://doi.org/10.26512/lc29202347546

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