Dossiê | Pesquisa narrativa no fazer ordinário da docência: múltiplas perspectivas

Memoriais em contextos de formação e pesquisa: abordagens narrativas e (auto)biográficas

Las memorias en contextos de formación e investigación: enfoques narrativos y (auto)biográficos

Memorials in training and research contexts: narrative and (auto)biographical approaches

Inês Ferreira de Souza Bragança




Destaques


A importância dos memoriais de formação como dispositivos teoricometodológicos em abordagens narrativas e (auto)biográficas.


Atravessamentos entre tempo e narrativa, a partir das contribuições de Paul Ricoeur.


Os memoriais transbordam e dão a ver/sentir modos outros de escrita acadêmica.


Resumo


O presente texto tem como objetivo refletir sobre a importância dos memoriais de formação como dispositivos teoricometodológicos em abordagens narrativas e (auto)biográficas. Toma, como fonte, os registros autobiográficos da autora e memoriais escritos em um grupo de pesquisa. Em um diálogo hermenêutico, discute os atravessamentos entre tempo e narrativa, a partir das contribuições de Paul Ricoeur. As reflexões reafirmam a importância do memorial na assunção dos docentes como autores de suas práticas e de saberes pedagógicos. Ressalta-se que, em pesquisas narrativas e (auto)biográficas, os memoriais transbordam e dão a ver/sentir modos outros de escrita acadêmica.

Resumen | Abstract


Palavras-chave

Memoriais. Formação docente. Pesquisa (auto)biográfica.


Recebido: 31.03.2023

Aceito: 07.08.2023

Publicado: 22.08.2023

DOI: https://doi.org/10.26512/lc29202347919


Tempo, tempo, tempo, tempo


Por seres tão inventivo

E pareceres contínuo

Tempo, tempo, tempo, tempo

És um dos deuses mais lindos

Tempo, tempo, tempo, tempo

(Veloso, 1979, p. 1)

Tematizar os memoriais para a composição do presente artigo1, levou-me ao inventário da presença desse dispositivo teoricometodológico2 em meus itinerários de vida, pesquisa, formação, e fui, assim, ao encontro do “tempo, tempo, tempo, tempo, tempo...”. Ele, que parece contínuo, é inventivo, compõe movimentos, ritmos; é vivo, intenso, nos escapa, desafia. Tempo, experiência, memória e narração se (entre)laçam, compondo tessituras de intrigas que dizem sobre cada um de nós, um tempo que “torna-se tempo humano na medida em que é articulado de um modo narrativo” e uma “narrativa atinge seu pleno significado quando se torna uma condição da existência temporal” (Ricoeur, 1994, p. 85).

Tomo este escrito como oportunidade de compor uma história, uma versão dos encontros e caminhos percorridos com a escrita (auto)biográfica, especialmente, com a escrita de memoriais em pesquisaformação no contexto do Grupo Polifonia3.

Considerando as contribuições da corrente francesa das histórias de vida em formação, a pesquisa-formação consiste, especialmente, em trabalhos realizados com grupos, em Seminários de Investigação-Formação (Josso, 2002). Tomo essa referência para alargar sentidos da pesquisa-formação, em suas mais diversas possibilidades metodológicas, incluindo trabalhos narrativos autobiográficos ou biográficos, não necessariamente realizados em grupo.

Assim, a pesquisaformação afirma a indissociabilidade entre a produção do conhecimento científico e os movimentos de transformação que, potencialmente, tocam os sujeitos envolvidos na pesquisa, em uma perspectiva horizontal e dialógica, em que os sujeitos e seus muitos outros atuam de forma implicada na tessitura do conhecimento e formação. (Bragança et al., 2021, p. 17)

Nesse movimento, sendo o tempo tríplice, é no presente que vivo da experiência do passado pela memória, do presente, pela visão e do futuro, como projeto, os escritos, aqui, virão prenhes de passado e de desejos de futuro. Tomarei o espaçotempo dessa escrita como experiência no tempo de agora (Benjamin, 1993), no atravessamento das sensibilidades possíveis, para ressignificar pela palavra alguns lampejos de história em entrelugares existenciais na companhia de muitos outros.

O objetivo deste artigo consiste, portanto, em refletir sobre os memoriais como dispositivos teoricometodológicos de formação docente e de pesquisa em educação em abordagens narrativas e (auto)biográficas. A escrita do artigo toma as referidas abordagens como opção epistemopolítica, colocando em roda de conversa lampejos (auto)biográficos da autora e de pesquisadoras/es do Polifonia, junto com autoras e autores, de forma horizontal. Os fragmentos narrativos entraram na conversa trazendo reflexões, deslocamentos, indagações sobre temas que acompanham a produção de memoriais em movimentos formativos e de pesquisa, tais como a ilusão de totalidade, os atravessamentos entre singular-plural e a possibilidade de outros suportes para além da escrita.

Inicialmente, socializo movimentos autobiográficos, na aproximação da escrita narrativa, e de como se expandem e se aprofundam nas discussões com autoras e autores do campo e nos caminhos de pesquisaformação das/dos pesquisadoras/res grupo Polifonia. Em diálogo com as contribuições de Paul Ricoeur, tematizo os atravessamentos entre tempo e narrativa, como constituintes da escrita memorialística, juntamente com fragmentos de memoriais escritos pelo referido grupo, no contexto de pesquisas acadêmicas de graduação, mestrado e doutorado4, tecidos de modo narrativo (auto)biográfico. A última seção do artigo retoma a importância dos memoriais como textos que transbordam e dão a ver/sentir modos outros de formação e de escrita nas pesquisas em educação.

Lampejos autobiográficos: aproximações da escrita narrativa


A menina que guardava cadernos, fotos, pequenos objetos, miudezas que diziam de suas experiências de aluna, seguiu como professora das infâncias e, depois, de jovens e adultos, prezando mais os passarinhos do que os aviões (Barros, 2016); e guardando, como mulher-memória, caixas, inúmeras pastas, álbuns, um caleidoscópio do trabalho docente. Memória e narração habitavam seu imaginário e se materializaram em reflexões nos campos que envolvem a pesquisa em educação e a formação docente, o “coisário”5 da docência e da vida profissionalque era também acompanhado por diários e escritos autobiográficos.

A dissertação de mestrado trouxe as histórias das professoras de um Centro Integrado de Educação Pública, rodas de conversas sobre suas práticas pedagógicas com a companhia e mediação da professora Célia Linhares, em 1997, evidenciando os cotidianos escolares, como espaçostempos de produção de saberes pedagógicos. Reuniu também estudo teórico e metodológico, revisão de literatura, narrativas docentes, mas muito pouco da professora-pesquisadora-autora. Os estudos no doutorado foram a oportunidade de mergulhar, intensamente, na produção da corrente das histórias de vida e Formação de matriz, especialmente, francófona. Em muitas horas de conversa sobre as histórias de vida de professoras portuguesas e brasileiras, foram tecidas suas biografias educativas, tendo, como referência, o trabalho e a conceituação de Pierre Dominicé (2000), com o desejo de tematizar a formação humana e docente, conforme tessitura de intrigas que se dá ao longo da vida em atravessamentos de experiências pessoais, acadêmicas e profissionais. Na tese, a professora-pesquisadora-autora está presente em fragmentos autobiográficos, partilhados ao longo do texto, por meio de trechos do diário de pesquisa, o livro da vida, mas, assim como na dissertação, não há um memorial de formação.

Quando, por que e para que entram os memoriais como escritos de professora e como dispositivos de formação e pesquisa?

Na formação continuada e inicial de professores, os escritos narrativos (auto)biográficos foram sempre uma especial companhia. O primeiro artigo, no qual uso a palavra-conceito autobiografia foi publicado em 2001, Fragmentos autobiográficos: memória e formação contínua de professores. Se na dissertação, dialoguei com as narrativas das professoras, sem me colocar em primeira pessoa, neste artigo, me apresento como professora-pesquisadora-narradora, partilhando a aproximação/paixão pela memória desde meus guardados pessoais da infância. Como coordenadora pedagógica de um projeto do Departamento Nacional do Serviço Social do Comércio (SESC), levei para os processos formativos, com professoras de diversos estados brasileiros, a possibilidade de falarem de suas práticas, de si, em atravessamentos singulares-plurais. Literatura e arte também como companhias, mobilizando a partilha oral e a escrita de “histórias surpreendentes do cotidiano escolar” (Bragança, 2001).

Ao chegar à docência da graduação em Pedagogia e demais licenciaturas, o compartilhamento de experiências dos estudantes era parte constitutiva das aulas, em diálogo com os textos lidos e as teorias a serem estudadas, que iam assumindo sentido, quando se entrelaçavam em tessitura de intriga com as histórias. Foi assim que, para discutir as tendências pedagógicas da educação brasileira, na disciplina de Filosofia da Educação, as professoras dos anos iniciais do ensino fundamental, que cursavam Pedagogia para atender às exigências da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, foram convidadas a escrever um memorial de formação, partilhando experiências escolares que nos ajudaram a problematizar os diversos momentos e marcas da educação brasileira, a partir das suas histórias de vida (Bragança, 2002). As narrativas orais, escritas e imagéticas acompanham os movimentos formativos vividos em diversos contextos.

Ao coordenar uma sessão de trabalhos no XIX Colóquio da Associação de Estudos e Investigação em Educação (ARFISE), na Universidade de Lisboa, conheci um jovem professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) que convidou os presentes para o II Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)Biográfica (CIPA) a ser realizado no ano de 2006, em Salvador. Em conversas que se seguiram, Elizeu Clementino, generosamente, partilhou comigo textos e trabalhos do I CIPA, realizado em 2004, com a coordenação da professora Maria Helena Menna Barreto Abrahão. Esse acontecimento biográfico abriu caminho para a partilha com amigos e referências bibliográficas que seguiram acompanhando meus estudos, diálogos e produções.

Ao retornar ao Brasil, para o trabalho junto à Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FFP/UERJ) e ao Grupo Vozes da Educação, o Programa de Pós-Graduação em Educação Processos Formativos e Desigualdades Sociais estava em seu início e, junto com as professoras Jacqueline de Fátima dos Santos Morais e Mairce da Silva Araújo, realizamos encontros coletivos com nossos grupos de orientandos, tomando como primeiro texto a ser escrito pelas professoras da educação básica que chegavam ao mestrado acadêmico, um memorial de formação que partilhava experiências formativas ao longo da vida, dizendo de como chegaram até ali (Suarez, 2016), do encontro com as questões de estudo já presentes em suas trajetórias de professoras-pesquisadoras e que seguiriam tematizando, agora, em uma etapa acadêmica da pesquisa. Assim, para além dos movimentos de formação inicial e continuada, com Jacqueline, Mairce, com o Vozes da Educação, tomei a escrita narrativa (auto)biográfica, e, especialmente, o memorial como dispositivo no acompanhamento de pesquisas.

Outro acontecimento biográfico foi o III CIPA, realizado em Natal, e coordenado pela professora Maria da Conceição Passeggi inclui a publicação da obra Memórias, memoriais: pesquisa e formação docente (Passeggi & Barbosa, 2008), com textos da coordenadora e de outros pesquisadores brasileiros, sistematizou e passou a constituir a referência da qual precisávamos para seguir experenciando os memoriais, tanto em contextos de formação, como de pesquisa.

Passeggi (2008) identifica duas modalidades de memorial: acadêmico e de formação. Os memoriais acadêmicos, como parte constitutiva dos concursos públicos para acesso ao magistério superior, estão presentes desde o início do século XX, e partilham a formação escolar e a trajetória profissional dos seus autores, tendo em vista processos de seleção ou progressão na carreira.Já os memoriais de formação, com uma escrita, especialmente, narrativa (auto)biográfica, tecem a trama das experiências formativas ao longo da vida, recebendo também a denominação de biografias educativas (Dominicé, 2000) e narrativas de formação (Souza, 2006).

Prado et al. (2008, p. 137) conceituam memorial de formação como:

[...] um gênero textual predominantemente narrativo, circunstanciado e analítico que trata do processo de formação num determinado período – combina elementos de textos narrativos com elementos de textos expositivos [...]. Num memorial de formação o autor é ao mesmo tempo escritor/narrador/personagem. O texto encadeia acontecimentos relacionados a experiências de formação, à prática profissional e também à vida [...].

A viragem dos anos 1980 e 1990 ressignificou os movimentos de pesquisa e formação, trazendo os memoriais de uma escrita estritamente descritiva, no sentido de um currículo comentado, para escritos, nos quais a vida pulsa, em suas múltiplas dimensões e atravessamentos. O memorial de formação aproxima-se de uma autobiografia, sendo que o filtro para a escolha das experiências a serem narradas coloca-se sobre os processos de (trans)formação.

Ao longo das décadas seguintes, vimos a ampliação quantitativa e qualitativa das produções do campo que envolvem abordagens narrativas e (auto)biográficas como caminhos de viver, narrar, pesquisar e formar em partilha. Na continuidade, o presente artigo dialoga com autores que têm nos acompanhado na discussão de conceitos incontornáveis ao trabalho com memoriais, destacando as relações entre tempo, narrativa e escrita, juntamente com fragmentos de memoriais escritos por pesquisadoras/es do Grupo Polifonia.

Tempos, narrativas e escritas


Nos movimentos de formação e pesquisa, quando estudantes das licenciaturas e da pós-graduação são convidados à produção de um memorial, tanto em contexto de formação como de pesquisa, questionamentos instigantes tomam a cena: o que narrar? O que há de importante em minha história? Qual o suporte?

No diálogo com elas, tomo emprestadas palavras outras que se fazem minhas, nossas. Na leitura de Larrosa (2017), tomamos os sentidos das experiências plenas em Walter Benjamin, como o que nos toca, nos atravessa e (trans)forma; são experiências que saltam quando estamos na página em branco e que se impõem à escrita. Um memorial não narra tudo, a totalidade é uma ilusão, memoriais partilham experiências formadoras, escolhidas pelo narrador-autor-personagem para compor uma tessitura de intriga a ser recriada pelos leitores. Nos fragmentos dos memoriais de Mariza Oliveira e Thais Motta, encontramos sentidos do memorial como lampejos da memória de experiências formadoras:

Reafirmo ainda que o memorial de formação não tem por objetivo contar exaustivamente cada momento da vida e sim, aceitando o convite de Bosi (1994), tratar a lembrança como um “diamante bruto que precisa ser lapidado” (p. 81) junto a um trabalho reflexivo, que não concebe o retorno ao passado como uma repetição dos fatos, mas, sobretudo, como uma reaparição. (Oliveira, 2012, p.19)

Ao aparar a mim mesma com as mãos, fui percebendo que, para escrever o memorial de formação, era necessário retornar ao labirinto das minhas memórias. Era preciso fazer caminhos de volta. Contudo, não era possível percorrer todos os caminhos dos labirintos da minha experiência. Era fundamental fazer escolhas. Escolher o que lembrar. O convite à escrita do memorial de formação era, para mim, como se estivesse de pé em frente de uma porta, à espera de adentrar. Mas, como? O que deveria recordar? Que momentos seriam importantes revisitar para a escrita de um memorial de formação? Das lembranças, que deveria narrar? Era necessário procurar lembranças relacionadas com o que desejo investigar? (Motta, 2019, p. 34)

Os memoriais, nossas autobiografias educativas, narrativas de formação, trazem, assim, lampejos da memória, fios que se articulam na composição de tramas entre o que planejamos e o que se desdobrou em ações, mas também acontecimentos, acidentes, com todos os componentes de alegrias e de tristezas. Como compartilha Motta (2019), um dos desafios consiste em escolher o que narrar; uma escolha legítima que faz das produções autobiográficas uma versão possível naquele momento, a figura pública de nós (Passeggi, 2008), a que desejamos apresentar. Apazigua o processo de produção do memorial pensar a vida em seus deslocamentos, idas e voltas, irrupções, ações e muitos acontecimentos. Para Ricoeur (2014, p. 46), o acontecimento “simplesmente ocorre; a ação, em contrapartida, é o que faz ocorrer”, o acontecimento não é intencional.

A composição das experiências vai produzindo tramas, chamadas por Ricoeur (2010) de tessituras de intriga, um enredo que possa ser seguido, recriado pelo leitor. Tecer uma intriga é, assim, uma operação dinâmica, que requer atuação propositiva do autor-narrador. A configuração narrativa implica selecionar do mundo da ação (mimese I) o que narrar, compondo cenários, sínteses do heterogêneo (mimese II). A configuração da intriga é uma arte de composição, de mediação entre concordâncias e discordâncias, uma concordância discordante que produz a síntese do heterogêneo. Na tessitura da intriga produzida, temos uma história que pode ser seguida, lida e recriada pelo leitor (mimese III). “Seguir uma narrativa é reatualizar o ato configurante que lhe dá forma. É ainda o ato de leitura que acompanha o jogo entre inovação e sedimentação [...]” (Ricoeur, 2010, p. 205).

Os memoriais colocam-se como obras abertas que convidam não só à leitura, mas ao ato também criador de novos enredos e histórias. Uma narrativa chama muitas outras, se, em sala de aula, começamos em pequenos grupos, narrando oralmente histórias surpreendentes vividas nos cotidianos escolares, a roda só se amplia, entrando as histórias dos ouvintes que se sentem convidados à partilha, ao movimento de ensinar e aprender. Nas leituras e em outras produções narrativas, inovação e sedimentação caminham juntas, logo, reafirmamos lições aprendidas, reconstruímos outras.

Nessas rodas, as histórias mínimas assumem sentidos coletivos e importância singular-plural. Uma conversa com uma querida orientanda, traz à tona dúvidas insistentes e difíceis.

É comum esses pensamentos quando estamos no processo de autobiografia?

Às vezes me pego pensando se não é prepotência (ou outra coisa dessas que ainda não sei denominar, escrever sobre mim mesma, tem hora que fico cabisbaixa pensando o porquê disso tudo...o porquê dessas escritas, dessa pesquisa, das anotações e reflexões... a quem interessaria isso? Essa vivência? As coisas todas que tenho enfrentado? [...]

Fico triste.

Mas ao mesmo tempo procuro me recompor e olhar para minha trajetória de vida. Vejo tudo que enfrentei. Desde a saudade da família e a fome na Casa do Estudante Fluminense pra me manter estudando, à falta de grana pro ônibus, que me levou à humilhação de pedir carona ao fiscal pra voltar pra casa, ao fato de ter uma professora da universidade a pagar minha inscrição de concurso público... a qual eu passei e estou trabalhando há 16 anos.

Cada passo desse, e muitos outros, me revigoram para não menosprezar o meu pensar e o meu fazer (Eliete Andrade, conversa por Whatsapp, 06 de junho de 2022).

A professora-autora-narradora está no primeiro semestre do mestrado em Educação; chega com uma bela história de professora das infâncias, trabalhando com memórias e narrativas com suas turmas, mas ao alinhavar seu memorial, se pergunta: “a quem interessaria isso? Essa vivência? As coisas todas que tenho enfrentado?”. “Sim, nossas histórias importam! Ao falar de você, traz os muitos outros que te habitam. Quantas lutas para estudar, para ser professora e também para ser mulher, mãe… sua história ensina e inspira”. Em sua escrita autobiográfica, Eliete não escreve sobre o seu eu, mas sobre si-mesma, como outra. Na obra O si-mesmo como outro (Ricoeur, 2014), temos a alteridade em seu sentido radical, a impossibilidade do eu soberano da modernidade, bem como a crítica ao seu total esfacelamento no pós-estruturalismo, na afirmação do si-mesmo, em sua relatividade construída em relação. “Em outras palavras, o si-mesmo é fundamentado de uma vez em sua dimensão de universalidade e em sua dimensão dialógica, tanto interpessoal quanto institucional” (Ricoeur, 2014, p. 214).

O memorial de Eliete, em construção, apresentará uma mulher-filha-professora-mãe em sua mesmidade e ipseidade, no que há de permanências no tempo, e em sua identidade narrativa e no que há de devir, as muitas outras de si-mesma. Mas também trará a história de muitas outras mulheres-filhas-professoras-mães das classes populares que foram as primeiras de suas famílias a cursar o nível superior, que passaram por incontáveis dificuldades para estudar, trabalhar, viver e que estão nas salas de aula da educação básica resistindo e (re)existindo (Varani, 2020), de forma contra hegemônica, conforme partilha Juliana Godói-Alvarenga (2017, p. 16):

Apesar de entender que é contra-hegemônico, e considerado menos científico, falar em nossas pesquisas sobre nós, coloco aqui como cheguei aos questionamentos presentes. Se não falar do meu ponto de vista, como vão saber o caminho que me fez dizer o que hoje digo? E mais, como explicar escolha de referências, linha de pesquisa, militâncias políticas? Como não fazê-lo, senão pelo posicionamento pessoal e profissional? Dessa forma, que esse prólogo, em forma de memorial, ofereça ao seu convidado (leitor) a não ser espectador desse caminho e perceba que, ao construirmos nossa trajetória, imprimimos no mundo nossa atuação como atores dessa história.

Os memoriais partilham histórias singulares-plurais, já que apresentam uma narradora/narrador encarnada/o em contextos históricos, políticos, econômicos, nas linhas e/ou nas entrelinhas, que dizem de desafios humanos, em cujas narrativas são tecidas. Em seu trabalho de conclusão de curso da graduação em Pedagogia, Yuki Matsuguma partilha as relações entre a sua escrita narrativa e o contexto pandêmico vivido.

Especialmente nas narrativas escritas no ano de 2020, em um contexto caótico de pandemia mundial causada pelo novo coronavírus, ficou explícita a inseparabilidade entre a minha vida e a pesquisaformação. Isolada socialmente, passando dia e noite dentro de casa para contribuir, minimamente, com o controle da disseminação do vírus na população, expressei, por meio das narrativas, minhas dificuldades, inseguranças e expectativas referentes aos meus processos de reinvenção. Aulas remotas da universidade, treinos de softball por vídeo-chamada, gravar vídeo-aulas para as crianças, higienizar todas compras do supermercado antes de guardá-las, utilizar máscara em espaços públicos... Todas fomos afetadas pela pandemia e tivemos que nos reinventar para conseguir dar continuidade ao trabalho, aos estudos, às pesquisas, à vida. Com toda a subjetividade de uma narrativa (auto)biográfica, o registro das minhas experiências não representa o processo de reinvenção percorrido pela maior parte da população brasileira, mas foi fundamental para eu entender meus limites e minhas potencialidades no lugar em que eu me identifico dentro desta sociedade. (Matsuguma, 2020, p.23)

Nos tempos pandêmicos em que vivemos (2020, 2021, 2022), os memoriais produzidos, tanto em processos de formação, como de pesquisa, colocam-se conforme testamentos, heranças (Arendt, 1972) do como, especialmente, no Brasil, sobrevivemos ao genocídio, aos ataques à ciência, à escola e à profissão docente. Escritos (auto)biográficos que transcendem e se expandem como denúncia e anúncio de mundos possíveis, que desejamos habitar.

Os memoriais também inquietam e trazem questionamentos sobre como produzi-los e a possibilidade de outros suportes para além da escrita. Sua escrita é narrativa, o que implica “dizer quem fez o quê, por que e como, estendendo no tempo a conexão entre esses pontos de vista” (Ricoeur, 2014 p. 153). Nessa perspectiva, o referente é narrado em sua materialidade e, assim, descrição e reflexão, explicação e compreensão consistem movimentos indissociáveis. Se o tempo dos memoriais acadêmicos, geralmente, é cronológico, linear, cumulativo, quanto ao volume do que pretende partilhar, já que sua finalidade consiste em concorrer a um processo seletivo, os memoriais de formação movem-se no tríplice presente, no tempo de agora benjaminiano. A força das experiências a serem partilhadas nos move, como o Angelus Novus, em direção ao passado e ao futuro, assim como não tem compromisso com a totalidade, reafirmando desse modo a possibilidade de enredos construídos em outras dinâmicas temporais, não regidas por Cronos.

O diálogo com autores é possível, desejável? Na roda de conversa aberta por um si-mesmo como outro, muitos outros são convidados a entrar. De forma horizontal, dialógica, o narrador-autor-personagem narra as suas experiências em diálogo com outros que podem ser os companheiros de trabalho, de grupos sociais aos quais pertence, tal como autores e autoras que escrevem literatura, que desenham, fotografam e autores acadêmicos. E assim, como na conversa, entram por desejo e não por obrigação. Nesse contexto, memoriais escritos trazem a possibilidade de diálogo com múltiplas linguagens das artes, da filosofia, das ciências.

Por convite prévio ou acontecimento, memoriais escritos transbordam, borram as bordas, os limites, fronteiras entre modos de escrever literatura e modos de escrever textos de pesquisa em educação. Em 2017, convidei a turma de Pesquisa e Prática Pedagógica do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (FE/UNICAMP) a escrever um memorial de formação que, ao final do semestre, poderia ser partilhado como vídeo (auto)biográfico (Abrahão, 2008; Bragança & Ossa, 2018). O convite inicial já trazia a possibilidade de uma transgressão ao gênero originário dos memoriais, o texto escrito, e favorecia o caminho para a produção de vídeos. As partilhadas foram voluntárias e trouxeram temas, como a escolha do curso, experiências escolares, a importância das famílias. Os vídeos produzidos deslocaram, ainda com mais força do que os textos escritos, o tempo de agora e a autobiografia, em sua possibilidade de fractal sensível, tempo aberto a múltiplas leituras como o de Isabela Tegon6.

A escrita autobiográfica ancora-se em uma racionalidade outra, sensível, estética. Entramos e não sabemos como vamos sair, pois somos envolvidos por movimentos que nos tomam e (trans)formam. A feitura do memorial recria experiências, sendo o seu próprio movimento um acontecimento. Em sua abertura, fronteiras entre escrita acadêmica, literatura e arte são borradas, pois a vida está ali, pulsando, rebelde. Como incorporar essas insubordinações e rebeldias à produção de trabalhos de conclusão de curso, na graduação, dissertações e teses, sem abrir mão da rigorosidade metódica que aprendemos com Freire (2001)?

No próximo desdobramento do texto, sigo partilhando fragmentos de memoriais de pesquisadoras e pesquisadores do Grupo Polifonia, refletindo sobre sua contribuição em contextos de formação e pesquisa, especialmente, para a construção de modos outros de escrita acadêmica.

Memoriais e modos outros de formação e de escrita acadêmica


Os movimentos de tessitura dos memoriais de formação, como parte constitutiva das pesquisas narrativas e (auto)biográficas, têm se desdobrado em modos outros de escrita que transbordam do memorial para todo texto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), da dissertação e da tese. Se iniciamos tomando o memorial como o primeiro capítulo dos trabalhos7, fomos percebendo que o convite de uma escrita narrativa transborda das páginas iniciais para todo texto, que se apresenta de forma narrativa.

Juliana Vieira desenvolveu sua dissertação de mestrado como uma coleção de cartas, algumas escritas, ao longo da sua trajetória docente e, retomadas, para dissertação, outras produzidas para a própria tessitura do texto acadêmico, como a carta dez em que faz reflexões sobre os caminhos percorridos.

A carta dez encerra parte do nosso diálogo e convida a muitos outros. Diálogos pessoais e coletivos, conosco e com nossos pares, com nossas memórias e com nossos guar-dados, com os tantos que fomos-somos-seremos. É possível que eu tenha conseguido dialogar com a sua experiência a partir da minha e, se essa interlocução se deu, fico já, um pouco satisfeita. Nunca será demais dizer e redizer para os que já sabem e, principalmente, aos que ainda desconfiam da validade, da representatividade e importância das pesquisas narrativas em Educação, que trazem a experiência como o grande campo a ser transitado, (re) vivido e refletido e a voz de professoras como pesquisadoras e sujeitos de suas práticas, não mais como objetos. Se vamos falar sobre educação, que as nossas vozes estejam e se façam presentes para dizermos de nós e não para dizerem sobre nós. Quando escrevo sobre mim e comigo, embora não seja possível estar só, mais que uma (auto)biografia está em curso. Autorizo-me e convido outras professoras a narrarem suas histórias de vida-formação, suas trajetórias invisibilizadas e silenciadas em seus cotidianos escolares, em seus lares, nos diferentes espaços que ocupam na sociedade. As histórias importam. As pequenas histórias importam, os sujeitos comuns importam e movimentam toda a história maior, que nos é apresentada como verdade estática feita de heróis e histórias únicas. (Vieira, 2020, p. 122)

A autora escreve, narrativamente, toda a dissertação, finalizando com uma reflexão sobre a importância desse processo na afirmação de saberes docentes, em uma autorização à autoria. Joelson Morais acompanha três professoras iniciantes, colocando-se, junto com elas, como professor, também, iniciante, que inclui, em sua tese, as narrativas escritas ao longo da pesquisa.

O olhar para si recobre uma dimensão formativa e transformadora, impulsionada pelo toque narrativo com que cada sujeito vai contando e tecendo os processos da pesquisa e o aprender pela experiência que constrói em suas tessituras singulares e subjetivas que o acompanham e vão dando sentido e inteligibilidade às reflexões e ações que empreende cotidianamente. O que é consubstanciado, significativamente, quando se percebe nesse processo de construção da pesquisaformação em articulação com o outro com o qual amplia e adensa o olhar e o fazer do sujeito implicado nesse movimento. Não há receita e um modo pré-estabelecido de pesquisaformação na construção do conhecimento científico. Ela é um amálgama de saberes, conhecimentos e experiências que vão, paulatinamente, sendo construídas, única e singularmente, pelo sujeito, fruto das necessidades que emergem em seu universo existencial, e articuladas com as demandas que se delineiam no princípio, e que surgem dos itinerários percorridos, além das múltiplas relações estabelecidas, construídas e transformadas por si, e pelos outros que nos põe a (re)ver e (re)pensar o que estamos pensando, fazendo e nos afetando sensivelmente pelos deslocamentos gerados (Narrativa: Os sentidos da pesquisaformação em movimento, 10/06/2020). (Morais, 2022, pp. 40-41)

Ao retomar os trabalhos acadêmicos, é possível encontrar caminhos singulares de construção da pesquisaformação em uma escrita narrativa que transborda do memorial para as linhas e entrelinhas do trabalho acadêmico; um processo tenso e intenso que vai revelando as relações com a escrita que se apresenta, nas palavras de Mariza Oliveira e Liliam Oliveira, como tentativa e como companheira.

Essa é uma tentativa! Tento aqui rascunhar um pouco de minha trajetória, um pouco de mim. Trata-se de um relato inacabado. [...] Corroborando com esta concepção freireana, penso que este relato exprime uma tentativa de compartilhar percepções de ser e estar no mundo, que se (re)constroem a cada dia em meio às minhas escolhas, renúncias, intervenções e muitas de minhas lembranças que vêm e vão ao longo dessa dissertação. [...] Contudo, pensar em uma escrita que se assume enquanto tentativa, como nos incita a pensar Lispector (1992), implica lançar-me à dúvida, desconfiar de um suposto consenso de ideias sobre o porquê e o que escrever neste memorial. (Oliveira, 2012, pp. 17-18)

Sábado, 14 de maio de 2018. Há tempos venho pensando qual o sentido dessa escrita que fiz no blog do ano de 2011 pra cá. Depois que entrei na Prefeitura. E, de repente, me veio este pensamento: da escrita como recurso de sobrevivência... Da escrita como companheira, no sentido de tirar da solidão e no sentido de ajudar a olhar as coisas bonitas que aconteciam na escola. E ao perceber as coisas bonitas, conseguir construir uma outra relação com aquela escola [...] Que papel essa outra escrita tomou dentro do meu trabalho? A de voltar a olhar para a escola com olhos de possibilidades, não mais com olhos de desespero ou solidão ou desamparo. A frase que tem no texto do Nóvoa, citando o Carlos Drummond de Andrade Só escreva quando de todo não puder deixar de fazê-lo. E sempre se pode deixar”.Mas o que é essa escrita que vem de uma necessidade de escrever, necessidade visceral de escrever, não uma imposição, é dessa escrita que eu quero falar, de uma escrita que nasce de dentro, que nasce da necessidade de colocar para fora o que está sentindo, aquilo que está vivendo, meio que para afirmar o que se vê, afirmar para os outros e para si própria aquilo que se vê. (Oliveira, 2020, p. 142)

Nas palavras das autoras, a tematização da escrita, como autorreflexão sobre o processo vivido no caminho da pesquisaformação, coloca-se como tentativa, pois são muitas as idas e vindas e permanentes os movimentos de reescrita. Tomando de empréstimo as palavras de Guimarães Rosa, assim como viver, escrever pode ser “muito perigoso”, pois movimenta a reflexividade (auto)biográfica, nos convocando a assumir posição no mundo e com os outros, em compromissos éticos e estéticos. E nos momentos de solitude da profissão docente, a escrita pode ser também uma boa companhia. Ao trabalhar com escritas (auto)biográficas na formação inicial de professores, a perspectiva que se abre é o desejo de que o tempo de lembrar, de escrever e refletir, seja tempo de trabalho para professoras e professores (Bosi, 1994). Nesse sentido, podemos reafirmar a importância dos memoriais no contexto da formação docente e da pesquisa em Educação na assunção dos docentes como autores das suas práticas profissionais e de saberes pedagógicos que podem ser compartilhados.

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Sobre a autora


Inês Ferreira de Souza Bragança


Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil

https://orcid.org/0000-0003-4782-1167


Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Évora-Portugal (2009). Professora Livre-Docente na Área de Educação Escolar da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Coordenadora o Grupo Interinstitucional de Pesquisaformação Polifonia, vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada (GEPEC/UNICAMP) e ao Núcleo Vozes da Educação (FFP/UERJ). E-mail: inesfsb@unicamp.br



Resumen


El presente texto pretende reflexionar sobre la importancia de las memorias de formación como dispositivos teóricos y metodológicos, en los enfoques narrativos y (auto)biográficos. Toma como fuente los registros autobiográficos de la autora y memorias escritas en un grupo de investigación. En diálogo hermenéutico, discute las travesías entre tiempo y relato, a partir de las contribuciones de Paul Ricoeur. Las reflexiones reafirman la importancia de las memorias, en la asunción de los profesores como autores de sus prácticas y del saber pedagógico. Se destaca que, en la investigación narrativa y (auto)biográfica, las memorias desbordan y dan a ver/sentir otros modos de escritura académica.


Palabras clave: Memorias. Formación del profesorado. Investigación (auto)biográfica.



Abstract


The present text aims to reflect on the importance of training memorials as theoretical and methodological devices, in narrative and (auto)biographical approaches. It takes, as a source, the autobiographical records of the author and the memorials written in a research group. In a hermeneutic dialogue, it discusses the crossings between time and narrative, based on Paul Ricoeur's contributions. The reflections reaffirm the importance of the memorial, in the assumption of the teachers as authors of their practices and pedagogical knowledge. It is emphasized that, in narrative and (auto)biographical research, the memorials overflow and give to see/feel other modes of academic writing.


Keywords: Memorials. Teacher education. (Auto)biographical research.



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Referência completa (APA): Bragança, I. F. de S. (2023). Memoriais em contextos de formação e pesquisa: abordagens narrativas e (auto)biográficas. Linhas Críticas, 29, e47919. https://doi.org/10.26512/lc29202347919

Referência completa (ABNT): BRAGANÇA, I. F. de S. Memoriais em contextos de formação e pesquisa: abordagens narrativas e (auto)biográficas. Linhas Críticas, 29, e47919, 2023. DOI: https://doi.org/10.26512/lc29202347919

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1Logo após a escrita dete artigo, fui tomada de tristeza pela passagem da querida professora-pesquisadora Marie-Christine Josso. A tristeza vai, aos poucos, abrindo brechas para seguirmos caminhando juntxs, espalhando e recriando, com sensibilidade, o que continuará nos ensinando. “Marie-Christine Josso, presente! Dedico a você este texto.”

2Uso a união de palavras, com destaque em itálico, no desejo de indicar a indissociabilidade dos conceitos. Tomo, como referência, os trabalhos da professora Nilda Alves (2010), em seus estudos nos/dos/com os cotidianos.

3Grupo Interinstitucional de Pesquisaformação Polifonia: https://grupopolifonia.wordpress.com/ e https://pesquisasemrede.wordpress.com/

4Dentre os trabalhos acadêmicos constam fragmentos de um Trabalho de Conclusão de Curso, seis dissertações e uma tese que foram escolhidos pelas temáticas discutidas na conversa proposta pelo texto.

5“Os gabinetes de curiosidades eram coleções particulares de coisas admiráveis, um “coisário”, que transportava o colecionador e seus privilegiados convidados, a uma viagem no tempo e no espaço.” (Exposição Coleção João Satamini – MAC).

6Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1sIi2q648GPa-evgE4ddzoVM7CSXnXjFY

7Em 2020, publicamos um livro com uma coleção de memoriais escritos pelo grupo (Bragança &Santana, 2020).

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