Comunicação enfermeiro-criança na escola: contribuições da Teoria do Agir Comunicativo
Comunicación enfermero y niño: aportes de la Teoría de la Acción Comunicativa
Communication nurse and children: contributions of the Theory of Communicative Action
Kéllen Campos Castro Moreira, Lúcio Álvaro Marques, Lucieli Dias Pedreschi Chaves, Rosane Aparecida de Sousa, Bethania Ferreira Goulart
Destaques
A atuação de enfermeiros/enfermeiras com crianças na escola utiliza-se da comunicação em saúde.
Fundamentos da Teoria do Agir Comunicativo podem contribuir para a atuação de enfermeiros/enfermeiras.
O agir comunicativo de enfermeiros/enfermeiras pode contribuir para melhoria em atenção à saúde de crianças.
Resumo
Este ensaio objetiva tecer reflexões sobre comunicação em saúde na escola, entre enfermeiros/enfermeiras e crianças, com contribuições de elementos da Teoria do Agir Comunicativo, de Jürgen Habermas. Apresenta fundamentos dessa teoria em transposição didática para um agir mais comunicativo, favorável à superação do modelo biomédico, à autonomia e à adesão ao autocuidado, promotor de saúde e preventivo de doenças e agravos, por meio da interação, respeito, diálogo, simetria de poder e linguagem, bem como o fortalecimento de vínculo, voltado ao entendimento entre os envolvidos, e com uso de expressões linguísticas do mundo da vida das crianças.
Palavras-chave
Comunicação. Comunicação em saúde. Enfermeiras e enfermeiros. Serviços de saúde escolar. Serviços de enfermagem escolar.
Recebido: 24.08.2023
Aceito: 10.11.2023
Publicado: 17.11.2023
DOI: https://doi.org/10.26512/lc29202350574
Introdução
O presente ensaio fundamentou-se em pressupostos do agir comunicativo de Jürgen Habermas, presentes na obra Teoria do Agir Comunicativo, cuja perspectiva pode contribuir para reflexões rumo a um agir mais comunicativo de enfermeiros/enfermeiras, no Programa Saúde na Escola (PSE).
Reconhecem-se a maior complexidade e a amplitude da Teoria do Agir Comunicativo que seu uso neste ensaio. Ademais, essa teoria pertence ao campo teórico, portanto, não há um roteiro a ser seguido e/ou aplicado à realidade quanto à comunicação em saúde, entre enfermeiros/enfermeiras e crianças na escola.
Atualmente há políticas públicas intersetoriais para valorizar a infância vivenciada na escola e as interações sociais que nela ocorrem. Destaca-se o PSE, o qual tem por finalidade promover a saúde integral das crianças e adolescentes (Brasil, 2017; 2022).
As ações do PSE ocorrem em âmbito gerencial, educacional e assistencial e são descritas em três componentes. Assim, enfermeiros/enfermeiras, atuantes na escola pelo referido programa, utilizam a comunicação em saúde para fazer avaliação clínica e cuidado em saúde, no componente I, como no teste de Snellen e na vacinação; para realizar educação em saúde voltada à prevenção de agravos e promoção da saúde para efetivar o componente II, prevalecendo temáticas preventivas como prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), em detrimento de temas com a visão ampliada de saúde como na promoção de práticas corporais, atividade física e lazer e para educação permanente dos profissionais da educação e da saúde, no componente III (Brasil, 2018; Moreira et al., 2020; Rodrigues et al., 2020).
No PSE as ações nos componentes I e II são separadas em essenciais, que são obrigatórias e optativas, que são de livre pactuação e independem do repasse financeiro. As essenciais devem ser registradas nos sistemas de monitoramento como requisito para avaliação do cumprimento das metas e têm-se avaliação antropométrica, verificação da situação vacinal, saúde bucal, acuidade visual, segurança alimentar, promoção de alimentação saudável, promoção de cultura de paz, educação para saúde sexual e reprodutiva com prevenção de IST e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), prevenção ao uso de álcool, tabaco e outras drogas. E as optativas são: saúde auditiva, desenvolvimento de linguagem, atenção às doenças negligenciadas (hanseníase, malária, tuberculose e outras), saúde mental, prevenção de acidentes, saúde ambiental, práticas corporais e atividades físicas (Brasil, 2022).
A atuação de enfermeiros/enfermeiras na escola pelo PSE possui potencial promotor de saúde, pelo exercício do papel de educador(a) em parceria com outros profissionais e familiares, por meio do agir comunicativo e em abordagem de temáticas na perspectiva salutogênica (Coriolano-Marinus et al., 2014; Moreira et al., 2020; Carvalho et al., 2021).
São necessários avanços rumo a uma perspectiva de saúde pautada na salutogênese e na promoção da saúde, principalmente, no PSE. A primeira como uma teoria que busca a origem da saúde e implica promover recursos e capacidades para aumentar a saúde; a segunda como um processo de capacitação das pessoas para o autocuidado em saúde, preconizando a autonomia, relacionada com parceria de familiares e interprofissional, determinantes e condicionantes de saúde (Antonovsky, 1979; Coriolano-Marinus et al., 2014; Moreira et al., 2020; Carvalho et al., 2021).
Para as crianças, o lúdico funciona como um mediador entre mundo físico e imaginário. Quando utilizado por enfermeiros/enfermeiras permite potencializar a interação e cuidar do aspecto biopsicossocial, já que, por meio do corpo e dos gestos, a criança se expressa, comunica e desenvolve aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais (Alves et al., 2019).
A compreensão da criança varia conforme a idade e etapa de desenvolvimento cognitivo, sendo a subjetividade sempre importante na interação, para garantir o assentimento das práticas em saúde ainda que, legalmente, não possa consentir. Preconiza-se que o brincar e o uso do lúdico na atenção à saúde da criança façam parte do processo de enfermagem, para a qualidade do cuidado e com registro em prontuário, conforme a Política Nacional de Humanização (PNH) (Brondani & Wegner, 2019; Dourado et al., 2022; Oliveira Macedo et al., 2022).
Por meio da brincadeira há desenvolvimento da criança, estímulo de criatividade e aproximação de seu imaginário e linguagem (Moreira, 2019; Oliveira Macedo et al., 2022).
Preconiza-se que a comunicação em saúde, realizada por enfermeiros/enfermeiras na escola, seja humanizada, centrada no indivíduo, em parceria, fundamentada no diálogo, na interação social, no respeito, cujo ensino-aprendizagem gere movimento voluntário para adoção de hábitos saudáveis, promotor de saúde e qualidade de vida, bem como preventivo de doenças (Brasil, 2018).
A comunicação é uma competência utilizada por enfermeiros/enfermeiras em sua atuação profissional, uma tecnologia leve relacional materializada em atitudes, acolhimento, escuta, respeito, interação, construção de vínculo, assistência integral, estímulo à autonomia, empatia, postura ética, apoio ao autocuidado preventivo e promotor de saúde (Coriolano-Marinus et al., 2014; Santos et al., 2019; Torres et al., 2019; Lopes et al., 2020).
Ademais, a comunicação em saúde, como interação humana entre enfermeiros/enfermeiras e crianças, ocorre por meio de expressões verbais e não verbais na percepção de sinais, gestos, movimentos; proporcionando compartilhar ideias, pensamentos e sentimentos. Faz-se presente para o desenvolvimento e implementação de todo o processo de trabalho, devendo ser realizada adequadamente, reduzindo ruídos e distância, para que o processo de trabalho seja resolutivo. Porém, evidências apontam que enfermeiros/enfermeiras possuem dificuldade em utilizá-la, provavelmente, em decorrência da formação que favorece o conhecimento científico como único e verdadeiro e desconsidera saberes populares e cultura local, de ausência de instrumentalização para comunicação com o binômio família-criança e de dificuldades próprias em estabelecer comunicação dialógica (Coriolano-Marinus et al., 2014; Torres et al., 2019; Lopes et al., 2020).
Segundo Habermas, a comunicação consiste na interação social entre sujeitos que compartilham significados e criam consenso quanto aos seus interesses e objetivos comuns. Quando a comunicação/interação é afetada por interesse e/ou poder desigual, sofre distorção e manipulação, o agir estratégico, cuja linguagem é unilateral (Habermas, 2011; 2012a; Bettine, 2021).
Para aproximar a comunicação em saúde do agir comunicativo, faz-se necessária interação social entre enfermeiros/enfermeiras e crianças na escola, com significados compartilhados em troca respeitosa, simétrica e dialógica de saberes científicos e o mundo da vida da criança, voltada para o entendimento durante as diferentes ações como, por exemplo, na avaliação antropométrica, vacinação e educação em saúde.
Para Habermas, as pessoas acessam e constroem o mundo da vida no convívio dos valores, por meio das regras sociais compartilhadas, da vivência com outros indivíduos e da experiência individual (Habermas, 2012a).
Os(as) enfermeiros/enfermeiras e as crianças participantes da comunicação precisam apreender referências do mundo da vida, consequentemente, o agir comunicativo (Habermas, 2012a; 2012b; Alves et al., 2018). É uma situação de ação e de linguagem, na qual os(as) enfermeiros/enfermeiras e crianças se alternam no processo circular de uso de atos de fala, orientados simetricamente, por entendimento mútuo mediante cooperação (Habermas, 1989; 2012a; Alves et al., 2018).
Quando a comunicação em saúde é afetada por interesses e poderes desiguais, a linguagem é unilateral. Por exemplo, em palestras educativas cuja fala de enfermeiros/enfermeiras com crianças ocorre como emissão de comunicados, transferência de informações e repasse de mensagens.
Frente ao exposto, surgiram alguns questionamentos: como os fundamentos teóricos do agir comunicativo podem contribuir para a comunicação em saúde entre enfermeiros/enfermeiras no PSE e crianças? Como a Teoria do Agir Comunicativo pode ser interpretada e aplicada na atuação de enfermeiros/enfermeiras com crianças na escola? Como os(as) enfermeiros/enfermeiras no PSE podem avançar de emissão de comunicados para comunicação em saúde, durante sua atuação com crianças na escola, por meio do agir comunicativo? Como o agir comunicativo pode favorecer a promoção da saúde de crianças na escola?
Desse modo, objetivou-se tecer algumas considerações reflexivas sobre a comunicação em saúde na escola entre enfermeiros/enfermeiras e crianças, com contribuições de elementos da Teoria do Agir Comunicativo, por meio de um ensaio teórico-reflexivo (Roso et al., 2023).
A escolha pela produção do ensaio se deve ao interesse em elaborar uma argumentação crítica e interpretativa, utilizando o agir comunicativo com relação à comunicação em saúde. Tal disposição se deu a partir da escrita do referencial teórico do projeto de tese de um dos autores.
O material de fundamentação deste ensaio foi: a obra Teoria do Agir Comunicativo de Jürgen Habermas e o livro A Teoria do Agir Comunicativo de Jürgen Habermas: bases conceituais.
Entende-se que elementos da Teoria do Agir Comunicativo podem favorecer a comunicação em saúde de enfermeiros/enfermeiras na escola pelo PSE, a qual como agir comunicativo, e não estratégico, possibilitaria resistir e reduzir a influência da colonização do sistema no mundo da vida, na busca pelo consenso, entendimento mútuo, coordenação da ação e emancipação.
Considera-se importante apresentar, brevemente, o contexto e a parte da história pública no qual Habermas vive, a fim de situar as bases de seu pensamento na Teoria do Agir Comunicativo.
Habermas e o agir comunicativo
Jürgen Habermas nasceu na Alemanha, em 1929, período marcado pelas consequências da Primeira Guerra Mundial. Formou-se durante a redemocratização da Alemanha, defendeu sua tese em filosofia, no ano de 1954, sobre a participação política dos estudantes alemães e atuou como docente. É um representante da denominada segunda geração da Escola de Frankfurt, um defensor da democracia deliberativa e da social-democracia (Bettine, 2021).
Publicou diversas obras tais como: Mudança estrutural da esfera pública, Conhecimento e interesse, O Discurso Filosófico da Modernidade, A Ética da Discussão e a Questão da Verdade, Direito e Democracia: Entre Facticidade e Validade, Consciência Moral e Agir Comunicativo e segue escrevendo.
Na Teoria do Agir Comunicativo, uma teoria social publicada em 1980, Habermas utilizou fundamentos e discussões com sociologia, antropologia social, filosofia da linguagem e da consciência, fenomenologia e hermenêutica, com destaque aos autores Max Weber, György Lukács, Theodor Adorno, Max Horkheimer, Karl Marx, Emile Durkheim, Herbert Mead e Talcott Parsons, na busca da compreensão da comunicação humana como fundamental para a criação de uma sociedade democrática e justa (Habermas, 2011; 2012a; 2012b; Bettine, 2021).
Propõe a razão comunicativa, uma racionalidade a partir da comunicação e amplos processos argumentativos voltados para o entendimento que se refere à propensão e aos mecanismos usados na troca ativa e pacífica de informações, e não ao consenso em si ou aos seus conteúdos (Habermas, 2012a).
Para Habermas, a linguagem foi criada pelo homem para o entendimento mútuo. Sendo a comunicação o modo pelo qual as pessoas compartilham significados e criam consenso. Porém, reconhece que a comunicação pode ser afetada por interesses e poderes desiguais que podem levar a manipulações da comunicação, o agir estratégico (Habermas, 2011; 2012a; 2012b; Bettine, 2021).
Dialoga com autores sobre os atos de fala, como a forma para compreender o agir humano, no qual a partir de uma proposição em busca do entendimento, as pessoas podem dizer sim ou não, mas não de modo unilateral (Bettine, 2021). Há como intuito obter um entendimento comum, o consenso. Pois, caso não seja livre de coação, de ação estratégica e instrumental, sua única finalidade é a obtenção de fins desejados por meio de manipulação (Habermas, 2011; 2012a; 2012b).
Para evitar tais distorções e manipulações e promover o agir comunicativo, é necessário criar espaços públicos onde as pessoas possam se comunicar livremente e em interação plena por meio da linguagem, com superação das relações assimétricas, buscando o entendimento mútuo (Habermas, 2011; 2012a; Bettine, 2021). Assim, em uma situação de fala, deve existir possibilidade de confronto de argumentos, sustentado na igualdade argumentativa, interpretativa, explicativa e na justificativa dos participantes, mas não na coação (Habermas, 1989; 2011; 2012a; 2012b).
Ressalta-se que os atos de fala são discursos compostos por três atos que se realizam simultaneamente ao proferimento de um enunciado: ato locucionário, ato ilocucionário e ato perlocucionário. O primeiro refere-se aos atos normativos, o segundo, aos comunicativos e o terceiro, aos estratégicos. São pensados a partir das premissas de que o entendimento é anterior ao dissenso, o agir comunicativo é anterior ao agir estratégico e o agir social é anterior ao agir teleológico (Habermas, 2012a).
Na ação e coordenação das ações, de sujeitos dotados de razão, há uma busca pela interação linguisticamente mediada, sendo o entendimento princípio norteador. De tal modo que, na interação mediada pela linguagem verbal e/ou não verbal, os gestos do primeiro indivíduo adquirem significado para o segundo, que reage ao sinal. Essa reação comportamental demonstra como um sujeito interpreta o gesto do outro (Habermas, 2012b).
O falante profere o significado linguístico com o objetivo de entender-se com o ouvinte sobre objetos e estados de coisas de modo distinto, segundo as três funções para o uso da palavra: representativa do mundo objetivo; interativa ou apelativa do mundo social; e expressiva do mundo subjetivo (Habermas, 2012a).
No agir comunicativo, pano de fundo do mundo da vida, o ator é, simultaneamente, o iniciador que domina as situações e produto das tradições, dos grupos e processos de socialização. É uma situação de ação e de linguagem na qual os atores se alternam no processo circular, para o entendimento mútuo mediante cooperação (Habermans, 1989; Alves et al., 2018).
Nesse sentido, destaca-se que os participantes da comunicação precisam apreender referências do mundo da vida: mundo objetivo, primeiro mundo, referente às representações ou pressuposições de acontecimentos e estado; mundo social, segundo mundo, refere-se às relações interpessoais e mundo subjetivo, terceiro mundo, autorrepresentação (Habermas, 2012a; Alves et al., 2018). A consequência de posturas competentes aos três mundos é o agir comunicativo que possibilita interação plena.
Destarte, o agir comunicativo consiste na interação, mediada pela linguagem, em que todos os participantes buscam uma concordância entre si, pautada na racionalidade comunicativa, dos planos de ação individuais aos objetivos ilocucionários. As relações no agir comunicativo buscam, exclusivamente, fins ilocucionários (Habermas, 2012a; Bettine, 2021).
Como fundamentos da Teoria do Agir Comunicativo podem contribuir para a comunicação em saúde na atuação de enfermeiros/enfermeiras no PSE?
A comunicação preconizada pelo PSE – humanizada, centrada no indivíduo, fundamentada no diálogo, no respeito e na parceria – tem convergência com aspectos do agir comunicativo. Abaixo segue um quadro (Quadro 1) contendo conceitos de termos contidos na Teoria do Agir Comunicativo e uma transposição didática aplicada à comunicação em saúde entre enfermeiros/enfermeiras e crianças na escola, com fim único de elucidar e possibilitar uma aproximação e contribuição de elementos da teoria à temática do ensaio, sem jamais reduzir a complexidade de elementos e termos habermasianos.
As relações no agir comunicativo buscam somente fins ilocucionários, sendo uma solução para a assimetria de poder e linguagem na comunicação em saúde entre enfermeiros/enfermeiras e crianças por meio de interação, respeito, diálogo livre de imposição de ideias, fortalecimento de vínculo e voltada ao entendimento mútuo.
Tal assimetria pode ser observada como quando são utilizados termos técnico-científicos em palestras educativas, imposição de comportamento considerado saudável, pautado no modelo biomédico, emissão de comunicados em saúde nos moldes de uma educação bancária ou uso de posição vertical e jaleco, enquanto as crianças estão sentadas denotando o poder pela detenção do conhecimento de enfermeiros/enfermeiras.
Ademais, o agir comunicativo pauta-se na atitude de enfermeiros/enfermeiras, orientada pelo entendimento, no intuito de obter o entendimento comum, o consenso, em amplos processos argumentativos ativos e pacíficos de informações embasadas cientificamente, mas sem desconsiderar a realidade local das crianças, livre de coação e sem se referir às próprias vivências, utilizando-se de expressões linguísticas do mundo da vida das crianças e de recursos lúdicos.
Quadro 1
Conceitos da Teoria do Agir Comunicativo em transposição didática aplicado à comunicação em saúde entre enfermeiros/enfermeiras e crianças na escola
Fonte: os autores.
Considerações finais
Este ensaio visou a contribuir para reflexões em direção a um agir mais comunicativo de enfermeiros/enfermeiras, no PSE, por meio de elementos presentes na Teoria do Agir Comunicativo.
A aproximação de tais elementos, em transposição didática, guiou-se por pressupostos interpretados pelos autores como favoráveis a avanços e à superação do modelo biomédico na atenção à saúde das crianças, estimuladora da autonomia dos sujeitos e com maior adesão ao autocuidado promotor de saúde e preventivo de doenças e agravos, por meio da interação, respeito, diálogo livre de imposição de ideias e assimetria de poder, fortalecimento de vínculo e voltado ao entendimento entre os envolvidos (enfermeiros/enfermeiras e crianças na escola).
Ressalta-se que as relações no agir comunicativo buscam somente fins ilocucionários, sendo uma saída da linguagem assimétrica para a simetria. Ademais, pauta-se na atitude de enfermeiros/enfermeiras orientada pelo entendimento, no intuito de obter o entendimento comum, o consenso, em amplos processos argumentativos ativos e pacíficos de informações embasadas cientificamente, mas sem desconsiderar a realidade local das crianças, livre de coação e sem se referir às próprias vivências. Na interação de enfermeiros/enfermeiras e crianças, é essencial o uso de expressões linguísticas do mundo da vida das crianças por enfermeiros/enfermeiras assim como percebê-las como sujeitos para além de suas dimensões biológica, psicológica e social.
Entende-se que linguagem verbal e a não verbal, usadas na interação entre enfermeiros/enfermeiras e crianças, visam a obter o entendimento mútuo. E que o lúdico se constitui expressão linguística do universo da criança, de seu mundo da vida, devendo ser valorizado e utilizado na comunicação em saúde com crianças, nas diversas ações de enfermeiros/enfermeiras na escola: avaliativas, educativas e de assistência.
Ademais, a atuação de enfermeiros/enfermeiras na escola pelo PSE apresenta potencial de promoção de saúde por meio da capacitação para o autocuidado em saúde, que preconiza a autonomia, ação nos determinantes e condicionantes de saúde e parceria com outros profissionais e familiares das crianças, como agir comunicativo e que pela perspectiva salutogênica tem-se o desenvolvimento de recursos e de capacidades para aumentar a saúde.
E quando a ação de enfermeiros/enfermeiras ocorre no âmbito de avaliação e assistência tem-se, por meio do agir comunicativo, o cuidado centrado na pessoa, no fortalecimento de vínculos, no incentivo da autonomia e, consequentemente, no potencial de maior adesão ao autocuidado pelas crianças.
Desse modo, a emancipação torna-se possível por meio da formação de consensos e no diálogo orientado ao entendimento, sem relação assimétrica de poder, pois no agir comunicativo, todos os envolvidos (enfermeiros/enfermeiras e crianças) devem ser reconhecidos como membros ativos e autônomos.
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Kéllen Campos Castro Moreira
Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-5288-4667
Mestre em psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (2014). Doutoranda em atenção à saúde pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Enfermeira na Secretaria Municipal de Saúde de Uberaba. Membro grupo de estudos e pesquisas ProLiSaBr/UFTM – PROmoção em comunicação, educação e LIteracia para a SAúde no Brasil. E-mail: kellen_camposcastro@yahoo.com.br
Lúcio Álvaro Marques
Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-7571-0977
Doutor em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2014). Bacharel licenciado em filosofia pela PUCMINAS. Professor no departamento de filosofia e ciências sociais e no programa de pós-graduação strico sensu em educação na Universidade Federal do Triângulo Mineiro. E-mail: lucio.marques@uftm.edu.br
Lucieli Dias Pedreschi Chaves
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-8730-2815
Doutora em enfermagem fundamental pela Universidade de São Paulo (2005). Enfermeira. Professora associada 3 do departamento de enfermagem geral e especializada na Universidade de São Paulo. E-mail: dpchaves@eerp.usp.br
Rosane Aparecida de Sousa
Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-5943-4175
Doutora em serviço social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005). Graduação em serviço social. Professora associada no departamento de serviço social na Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Líder do grupo de estudos e pesquisas ProLiSaBr/UFTM – PROmoção em comunicação, educação e LIteracia para a SAúde no Brasil. E-mail: rosane.sousa@uftm.edu.br
Bethania Ferreira Goulart
Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
https://orcid.org/0000-0003-2855-6767
Doutora em ciências – enfermagem pela Universidade de São Paulo (2015). Enfermeira. Professora adjunta no curso de enfermagem e no programa de pós-graduação em atenção à saúde. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Gerenciamento na Enfermagem e na Saúde (GEPGES/UFTM). E-mail: bethaniagoulart@yahoo.com.br
Contribuição na elaboração do texto: autora 1 – escrita de todas as seções do ensaio; autor 2 – revisão crítica do conteúdo; autora 3 – consolidação do manuscrito; autora 4 – consolidação do manuscrito; autora 5 – revisão crítica do conteúdo e consolidação do manuscrito.
Este ensayo tuvo como objetivo reflexionar sobre la comunicación em salud em la escuela entre enfermeros y niños con aportes de elementos de la Teoría de la Acción Comunicativa, de Jürgen Habermas. Presenta los fundamentos de esta teoria em transposición didáctica a una acción más comunicativa que favorezca la superación del modelo biomédico, estimulando la autonomía y la adherencia al autocuidado, promoviendo la salud y previniendo enfermedades y lesiones, a través de la interacción, el respeto, el diálogo, la simetría de poder y lenguaje, fortaleciendo vínculos, orientado al entendimiento entre los involucrados y utilizando expresiones linguísticas del mundo de vida de los niños.
Palabras clave: Comunicación. Comunicación en salud. Enfermeras y enfermeros. Servicios de salud escolar. Servicios de enfermería escolar.
This essay aimed to reflect on health communication at school between nurses and children with contributions from elements of the Theory of Communicative Action, by Jürgen Habermas. It presents the foundations of this theory in didactic transposition to a more communicative action that favors overcoming the biomedical model, stimulating autonomy and adherence to self-care, promoting health and preventing diseases and injuries, through interaction, respect, dialogue, symmetry of power and language, strengthening bonds, aimed at understanding between those involved and using linguistic expressions from the children's world of life.
Keywords: Communication. Health communication. Nurses. School health services. School nursing.
Linhas Críticas | Periódico científico da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, BrasilISSN eletrônico: 1981-0431 | ISSN: 1516-4896
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Referência completa (APA): Moreira, K. C. C., Marques, L. A., Chaves, L. D. P., Sousa, R. A. de., & Goulart, B. F. (2023). Comunicação enfermeiro-criança na escola: contribuições da Teoria do Agir Comunicativo. Linhas Críticas, 29, e50574. https://doi.org/10.26512/lc29202350574
Referência completa (ABNT): MOREIRA, K. C. C.; MARQUES, L. A.; CHAVES; L. D. P., SOUSA, R. A. de; & GOULART, B. F. Comunicação enfermeiro-criança na escola: contribuições da Teoria do Agir Comunicativo. Linhas Críticas, 29, e50574, 2023. DOI: https://doi.org/10.26512/lc29202350574
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